essa é a parte de trás do museu, indo para a mini floresta que lá há
a luminosidade do fim de tarde estava única
eu já sabia, mas não imaginava que a diferença de formato da rocha, que necrosamos enquanto espécie, era tão grande
olha só a escandinávia onde está! em cima de uma enorme saliência…
aqui tem um modelo animado:
very interesting…
já falei sobre as maditas janelinhas popup da internet. desde as antigas até as atuais em flash, todas são incrivelmente irritantes, insidiosas, omnipresentes
raros, raríssimos são os websites em que essas merdas dessas ferramentas de venda do capeta não existem… isso sem falar nos produtos anunciados: quanta merda…
tenho um amigo, o nóia, que me indicou recentemente o mundo canibal. bem divertido. esse vídeo é o que remeteu ao blog aqui:
o post de ontem foi terrível: mal humorado, bêbado, ácido, agressivo…
hoje mandei emails e mensagens de textos pras pessoas que eu gosto pedindo desculpas… sim, além do post aqui no blog mandei um monte de emails… isso sem falar na minha amiga querida que me aguentou por quase uma hora ininterrupta chorando e dizendo a ela o quanto a amo… havia motivo…
eu sou foda…
pra recompensá-los, olha que doce:
adoro crianças cantando
enfim
espalho amor……
ouço blossom dearie enquanto escrevo isso. gosto muito. esse jazz das antigas é bom demais. dave brubeck quartet é uma redundância das maiores, common place. sorry. j’aime aussi d’autres choses, croyez-moi:
algum dos meus leitores, por acaso, conhece vince guaraldi? terje rypdal, manu katché, jan garbarek?
henry mancini, egberto gismonti, charlie parker, cole porter, pat metheny, et al. são fáceis demais e não entram nesse boast about sem fim… (reparou que eu usei a oxford comma?) privo-me de incluir os links. me sinto um papagaio falando isso é bom isso é bom isso é bom…
pensar com calma em o que eventualmente recomendaria dá trabalho demais – coisa de que nunca gostei muito, a não ser quando inexoravelmente imprescindível. faça sua própria pesquisa: gosto é que nem cú…
…e pra quê tudo isso? pasme! por causa de um vídeo que eu vi do “i love lucy”, em que aparece a tallulah bankhead:
coisas da adolescência. memórias deliciosamente adolescentes que ficaram e nunca, jamais devem ir embora…
mas, voltando ao assunto da música, jamais colocarei esse tipo de música como toque do meu celular (anymore…). foi engraçado em 97, 98, quando era novidade usar esses tipos de arquivos diferentes. a partir de 2001, usar o até então arquivo ΜΠ³ como “a coisa mais diferente e maravilhosa do mundo” deixou de ter graça… em geral
hoje em dia, “hip people” ainda colocam coisinhas engraçadas como toque do celular… fico im-pre-ssio-nado, mesmo, ao ver gente inteliformada colocando funk como toque do celular… sempre quando ouço a bourgeoisie, gente de classe pra lá de média brincando de “vai cachorra”, penso que essa gente é doente, já que o celular custou 3 vezes o orçamente da gente que elaborou o funk… (quando não envolvidas com drogas, claro…)
mesmo a blossom, no vídeo acima… não é exatamente a mesma coisa mas… que fascimo é esse?
oi! você piscou o cú perto da gravação desse vídeo, e agora o mussolini vai te arrebentar, te prender, cobrar royalties… “no pictures are allowed in here”…? com o dedo em riste!
quase deixei de gostar dela… ainda bem que ela já morreu, senão ela vinha bater na minha porta… será que ela aparece em sonho? tô fudido, a não ser que ela venha só pra cantar…
coisas de uma outra época. passado. imagine essa mulher lidando com downloads infinitos de música, vídeo, foto..
voltando aos toque de celular… o que tá me incomodando: a não ser que faça parte de uma comunidade verdadeira na favela, ou no maranhão, ou no piauí, alagoas, bahia…, passando por todo tipo de necessidade material, comidal, ou experimentando música e poesia como maneira de fuga da realidade, fuga da realidade REAL (me perdoe se isso parece fascista), tudo isso é artificial, ridiculamente artificial; feio, besta, “sou rico-e-tenho-conforto-material-mas-quero-proclamar-que-me-importo-com-os-pobres-MUITO-à-distância-MUITO-MUITO-à-distância”, kinddah ringtone…
…de repente você está no meio de uma reunião com a elite pensadora, pesquisadores especializados, com anos de estudos antropológicos, técnicos, sociológicos… gente supostamente preocupada com a fina seleção de gostos através dos séculos, cultura lato sensu, throughout anos de dedicação, e alguém deixa escapar um toque de celular como, “vai cachorra, au-au, me bate… só um tapinha não dói…”
pra mim, o fim
…mas nessas horas, se alguém des-traiu, o bom-tom reza que a gente deve sorrir e… sei lá…
soltar um peidão bem alto? um arroto?
pppppprrrrrprrprrprpprprrrrpszszspzpzszzzsssssssss?
amém?
esse cara, o jarbas agnelli, viu poesia em pássaros pousados em fios de eletricidade – coisas que só existem em cidades grandes de países de terceiro mundo ou em cidades muitos muito pequenas e bem afastadas de centros urbanos em países do dito primeiro mundo
até os 3 minutos do vídeo ele explica como e porquê. interessante
daí em diante, música e sensibilidade de primeira. hiper criativo. adoro admirar (e invejar) a criatividade alheia:
o nome dele é sean ruttledge. super engraçado
no fin al ele até fala um pouquinho de português…
uma pessoa interessada em meu bem-estar psíquico me recomendou rilke, mais especificamente a poesia de rainer maria rilke. comprei as elegias de duíno. li tudo em duas semanas, regurgitando trechos para processar melhor. vou continuar lendo rilke. as elegias serão minhas companheiras tanto quanto a poesia do manuel bandeira. gostei bastante da profundidade espiritual das reflexões dele. estou ávido para comprar outras coisas, como o sonetos a orfeu e o cartas a um jovem poeta
ler a poesia do rilke faz um monte de luzes se acenderem no cérebro, muitas vezes com a identificação plena e a certeza de que ele descobriu, 100+ anos antes, tudo o que está na minha cabeça, no meu desconsolo com o mundo, dentro do meu mundo psíquico. só que muito mais bem elaborado:
Quem, se eu gritasse, entre as legiões dos Anjosme ouviria? E mesmo que um deles me tomasseinesperadamente em seu coração, aniquilar-me-iasua existência demasiado forte. Pois que é o Belosenão o grau do Terrível que ainda suportamose que admiramos porque, impassível, desdenhadestruir-nos? Todo Anjo é terrível.E eu me contenho, pois, e reprimo o apelodo meu soluço obscuro. Ai, quem nos poderiavaler? Nem anjos, nem homense o intuito animal logo adverteque para nós não há amparoneste mundo definido. Resta-nos, quem sabe,a árvore de alguma colina, que podemos revercada dia; resta-nos a rua de onteme o apego cotidiano de algum hábitoque se afeiçoou a nós e permaneceu.(…)Primeira Elegia
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o rilke aparece como lampejos em vários poemas do bandeira, como em “a vida / não vale a pena e a dor de ser vivida. / os corpos se entendem mas as almas não. / a única coisa a fazer é tocar um tango argentino.” (antologia), ou em “chora de manso e no íntimo… procura / curtir sem queixa o mal que te crucia: / o mundo é sem piedade e até riria / da tua inconsolável amargura.” (renúncia)
quando se lê a poesia do rilke percebe-se como ela é profunda, como ela toca lá no âmago, no núcleo transcedental do eu. ao mesmo tempo, ela eleva à exosfera, às altitudes sublimes do raciocínio. quer ver?
Não, não mais buscar: que seja esta, voz da madurez,a essência do teu grito. Gritaste, em verdade,com a pureza do pássaro, quando erguido pela estaçãoque ascende, quase esquece que é um ser desamparado,coração solitário lançado às alturas, na intimidadedo céu. Como ele, buscavas a amiga invisívelque te pressentisse, a silenciosa em que uma respostadesperta, lenta, e se esquece ao ser ouvida – a companheiraardente do teu sentimento exasperado.(…)Anjo, mesmo que te aliciasse não virias, pois meuapelo é sempre denso de repulsa; que podes tucontra a caudal do meu horror? Um braço estendidoé meu chamado. E a mão que ávida se espalmapara o alto fica diante de ti, ó Inapreensível,como defesa e advertência,amplamente aberta!(…)Sétima Elegia
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algumas coisas tem a capacidade de me transformar em fã imediato. isso vale para amigos, autores, poemas, professores. o expressionismo da poesia do rilke é uma delas
estes poemas foram traduzidos dos originais em alemão pela dora ferreira da silva. pra encerrar:
“quem desconhece a angustiosa espera diante do palco sombrio do próprio coração? Olhai: ergue-se o pano sobre o cenário de um adeus.” (Quarta Elegia)
demais
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dando continuidade a um certo estado de espírito mórbido (depois do gunther von hagens), menos por fase que por afinidade, ainda e essencialmente ligado à arte, vou tanger o tema da escultura do kris kuksi, a saber, religiosidade, morte, guerra; tudo permeado de uma pegada muito bem humorada, uma comicidade nos detalhes, na mistura de materiais, na interpenetração de temas
nossa, me senti “o” crítico de arte agora… cada palavra bunita…
melhor que falar, analisar e fingir entender, mostrar. treine sua própria percepção. no site dele (clique no nome dele acima), é possível dar zoom e ver muitos, muitos detalhes interessantes (clique nas imagens abaixo para aumentar o tamanho):
no site dele tem muita coisa bacana pra ver. coisa de quem tem tempo pra matar, claro… não é à toa que eu escolhi justamente essa escultura pra por no blog. repare no nome dela…
ainda no ambiente da arte, só que além do tema da morte, gosto bastante da pintura realista cotidiana americana, especificamente a do edward hopper. não deixa de ter uma certa similaridade com a morte, já que o tema dele é a solidão, o vazio, o silêncio
dentre todos os quadros dele, um dos meus preferidos é esse aqui:
gosto especialmente por causa do sol, apesar do vazio, do silêncio, da solidão…
que contraste gostoso com o kris kuksi ou com o gunther von hagens, né?
do hopper, também adoro a luminosidade e as cores vivas nessa rua aqui:
que mais orbita minha cabeça ultimamente? édipo rei, de sófocles (oedipo tirano, no título original em grego – OΙΔΙΠΟΥΣ ΤΥΡΑΝΝΟΣ), mito e tragédia na grécia antiga, um livro do jean-pierre vernant & pierre vidal-naquet, pra entender melhor o édipo tirano, além de continuar lendo o mundo, do schopenhauer
tudo muito agradável
como eu sempre digo: aprender é mais gostoso do que saber…
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eu me fascino pela morte: por medo, pela sedução
no primeiro caso, morro de medo de perder as pessoas de que gosto. sua ausência será terrível; a saudade, mortal
no segundo, gosto de pensar na minha própria morte e, ao contrário do senso comum, gostaria de encontrá-la hoje, agora. je suis un inadapté à la vie
a morte é um grande alívio; a vida é esquisita e desde sempre a humanidade se preocupa em como preencher a existência. horácio pôs em poesia pela primeira vez o conceito do carpe diem, colha o dia, carpe diem quam minime credula postero, pensar no futuro o mínimo possível. como bom hedonista que sou, adoto essa idéia como lema de vida. odeio fazer coisas de que não gosto: uma chatice. e quase tudo na vida é chato, muito chato. talvez por essa condição – achar que quase tudo na vida é chato -, me interesso tanto pela minha morte – e pela morte dos outros também
mas… eu, só? não… todomundo, todo-mundo, se interessa e se fascina pela morte. na poesia, na literatura, nos filmes, na pintura, na escultura: a morte na arte é onipresente.
é parecido com a força da natureza. pense em como a gente se fascina com o poder do inevitável: uma tempestade é encantadora; o mar revolto, tão sedutor; um vulcão em erupção; um meteoro destruidor. a gente adora. morte e vida se articulando… vida… morte… o que é bom, afinal?
além de horácio, outros poetas pensaram na desgraça de estar vivo, na estupidez sem sentido da vida: a sequência de bestialidades que a gente é obrigado a cometer para comer… alceu de mitileno, amante de safo, é um deles, e eu me identifico muito com ele; eu e baudelaire: bebamos!
“beba pra afastar suas tristeza, beba porque a vida é curta, beba pra se aquecer no inverno…”
baudelaire tem um poema que chama enivrez-vous, “fique bêbado; sempre! de quê? vinho, poesia, virtude, sei lá; mas fique bêbado! pra não sentir o fardo horrível do tempo esmagar seus ombros, te moer na terra adentro… pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro… a tudo o que passa, tudo o que geme: que horas são?
– hora de beber! não seja escravo do tempo: fique bêbado! de que? vinho, virtude, poesia, sei lá.” (trechos traduzidos e misturados por mim)
mais do que achar sentido, fugir! não é? acho que é… a fuga é mais gostosa, muito mais gostosa do que buscar sentido. tanto quanto aprender é mais gostoso do que ter conhecimento
esse cara, o gunther von hagens, criou uma exposição muito interessante. ele desenvolveu uma técnica de plastinação de corpos, algo de uma certa maneira parecida com o que damien hirst faz, mas, os sujeitos da arte dele doam seus corpos para a arte, para a instrução humana. ele retira a gordura, preserva os tecidos humanos e depois dispõe as pessoas em poses artísticas; objetos da morte… muita gente reclama, e eu acho que essas pessoas tem um grave problema mental… olha que lindo isso:
eu acho incrível e admirável que algumas pessoas deixem em testamento a ordem (bequeath) para que seus corpos sejam doados, após a morte. seja para o aproveitamento de órgãos, seja para a arte
o que será do meu corpo quando eu morrer? puta merda! se virar arte e for parar num museu… já pensou? instruir a humanidade: olha o que acontece com o intestino e o fígado quando se bebe demais; olha o pulmão de um ex(?) fumante; as consequências de morar numa grande e POLUIDÍSSIMA cidade… olha os rins… olha o pinto dele como era grande………. deu pra fazer uma viga de sustentação pro teto da exposição… : )
outras pessoas antes já trataram da morte através da arte, gente do calibre de géricault com seu le radeau de la méduse (1819), barco em que as pessoas tiveram que comer um ou outro para sobreviver… yummy… dizem que a carne é adocicada… esse quadro é tido como a melhor alegoria para a instabilidade, a efemeridade, a estupidez da vida e a impotência do ser humano diante dela
o meu pinto, na verdade, ia dar pra fazer dois ou três hambúrgueres, quando muito… carne dura, if you know what i mean… das 147 pessoas no barco, as 15 sobreviventes se abastariam…
gosto muito da pintura do romantismo, essa pintura de boêmios com alma atribulada e extremamente sensível pra miséria do mundo. goya é demais. delacroix também. as cores, a atmosfera… tudo envolto na bruma da morte, presente no ar como o odor de um frasco destampado. baudelaire
de profundis clamavi (salmo recitado para os mortos) “imploro-te piedade, a ti, razão de amor, do fundo abismo onde minha alma jaz sepulta”
uma jornalista (beate lakotta) e um fotógrafo (walter schels) da alemanha levaram a arte da morte a um patamar que me fez perder o chão. eles entrevistaram e retrataram pessoas com doenças em estágio terminal – vai morrer hoje? amanhã? quem sabe…? veja a reportagem no britânico guardian (in english). aqui tem o site com as fotos da exposição. antes que você clique, um aviso: as fotos retratam pessoas vivas, dispostas a falar sobre suas doenças terminais, e depois; mortas. é lindo. a morte é linda… a exposição dói – eu choro sem parar, mesmo sendo sobre pessoas que eu não conheço… esse tipo de arte é muito forte… e ao mesmo tempo, lindo demais… sou eu? é você? somos todos ali
a exposição: life before death
afinal, lidar com a morte ajuda a gente a viver melhor? hum… sei não
mas é nossa única certeza
a morte é gostosa
mas é tabu
_
gosto dos textos do millôr
adoraria escrever gostoso assim; mas foi ele quem primeiro pôs esses pensamentos em evidência… achei na coluna dele na veja, baseado no texto do conde que virou, inclusive, nome de rua na vila mariana (afonso celso)
:
Por que me ufano!
“editado em 1900, ‘porque me ufano do meu país’, do conde de afonso celso, foi traduzido em doze línguas, vendeu zilhões e criou o sentimento do ufanismo. quer dizer, antecipou o dito de nelson rodrigues: ‘toda unanimidade é burra’. é só ver show com 1 milhão de assistentes, jornal nacional destinado a 30 milhões de espectadores, discurso de candidato político visando a 50 milhões de eleitores
nos anos 60 escrevi peça usando o título ‘porque me ufano do meu país’, gozação evidente. a censura proibiu, por não perceber a gozação. ou por perceber, sei lá
o livro é mais fantástico até do que o brejal dos guajas, do sarney
_
tem epígrafe em inglês: ‘right or wrong, my country’. o conde é supernacionalista, mas não resiste ao gringo. que não traduz. e não diz, ou não sabe, quem é. eu sei
o gringo é stephen decatur, herói leatherneck, fuzileiro naval americano. traduzo: ‘certa ou errada, minha pátria’. g.k. chesterton comentava: “é o mesmo que dizer – ‘minha mãe, sóbria ou bêbada‘”
reproduzo aqui trechos do livro, com o nobre intuito de iluminar vosso ufanismo:
_
diliça…
..e tantos ainda acreditam/reproduzem a estupidez…
que a ignorância, como contra-exemplo, sirva de mola propulsora à inteligência, à crítica, ao esclarecimento…
o brasil é um país tão cheio de coisas boas…
eu não moraria em nenhum outro país… serei eu um Homophrosyne com o bobo do afonso celso? (homophrosyne – união de coração e mente, dentro de uma amizade ou matrimônio) -adoro grego e cultura helenística
só pra constar, os estados mais analfabetos = + pobres do brasil são, por todos os critérios imagináveis:
1.alagoas, 2.piauí, 3.paraíba, 4.maranhão, 5.bahia…
diliça… dá-lhe academia brasileira de letras!
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hoje fiz prova de teoria literária. para relaxar, almocei, dormi e depois comecei a ler coisas em inglês, até chegar a mark twain. que delícia ler o texto desse homem: é incrivelmente bem escrito e por isso incomensuravelmente gostoso de ler. ele escreve de um jeito engraçado, com muito talento, fazendo a gente rir às vezes do começo ao fim da história
o livro que eu tava lendo chama “a tramp abroad” e pode ser colocado no gênero de literatura de viagem. twain narra suas peripécias pela europa com um amigo (harris), fazendo um monte de palhaçada. em um determinado ponto ele descreve o leão de lucerna
estátuas de leão são sempre bonitas, mas essa realmente impressiona. a escultura representa um leão morrendo, escondido numa reentrância da rocha. o monumento é uma homenagem aos guardas suiços que morreram defendendo luis xvi, louis le dernier, durante uma das insurreições da revolução francesa. o leão está deitado sobre um escudo com a fleur-de-lis, ferido por uma lança. em cima do leão está escrito helvetiorum fidei ac virtuti – à lealdade e coragem dos suíços. o escultor se chama bertel thorvaldsen
uma bonita alegoria para o fim da monarquia na frança
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mark twain tem muitas outras histórias, entre romances e contos, a maioria divertidíssima. pudd’nhead wilson (wilson cabeça de pudim… hehe), how to tell a story, adam’s diary, the awful german language… tudo muito bom: o melhor remédio pra dor de cabeça, ressaca, cansaço de prova, fim de caso e mau humor
;-)
uma certa atriz nos estados unidos foi proibida de consumir álcool (!). um dispositivo em seu corpo monitora o consumo eventual da pepita líquida e notificará imediatamente as autoridades para que a criminosa seja peremptoriamente presa
fico consternado de ver como a história da humanidade é cíclica: lei seca, letra escarlate, fogueira… coisas que se repetem tempo-aqui, tempo-ali; sempre há algum idiota tentando moralizar o comportamento das pessoas em um certo grupo
e de que grupo está-se falando? atores em hollywood. hum… sei… atores nos estados unidos da américa não poderão mais beber?… (precedente, precedente…)
o mundo é tão de ponta-cabeça…
não seria mais fácil proibir todas as substâncias que deixam a gente alegre, às vezes bobo, muitas vezes arrependidos das coisas que fizemos e de que nos lembramos no dia seguinte? na categoria “todas” entra tudo, sem exceção: álcool, maconha, cocaína, heroína, macdonalds, crack, coca-cola, ketamina… (as drogas nesta lista não estão ordenadas por ordem de prejuízo causado ao próprio corpo ou à comunidade…)
que estupidez que estupidez que estupidez…
tudo isso
agora, sabe o que mais me irrita? as coisas que a imprensa leva a gente a pensar e a debater…
quem se importa se a fulana vai ser presa? eu, com certeza, não. se ela é louca, bebe até cair, bate o carro e eventualmente mata alguém, é problema dela e dos envolvidos.
e por que a imprensa me faz pensar sobre isso, mesmo quando ela mata alguém?
me preocupar com o consumo alcoólico de atores hollywoodianos, e querer debater o assunto? que raiva! tanta coisa útil pra divulgar…
mas, cabe a pergunta: por que quem vende não é incriminado e penalizado junto? e por que o consumo é, aliás, incentivado?? muita grana envolvida? não sei… serei eu o último ingênuo?? ô mundo lôco! será que isso tem alguma coisa a ver com o fato de as empresas serem consideradas “pessoas”? êita estratégia jurídica para a impunidade…
só pode incriminar plantador de maconha ou vendedor de cocaína?? o álcool, por acaso, pertence a uma categoria mais benéfica de droga??? ???
ou libera tudo e o maldito estado – contrato social – monitora excessos, ou não enche o meu saco!
gosto de liberdade: se álcool pode, tudo pode!!! !!!
e tenho dito
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tauromaquia. corrida de toros. espetáculo em que habilidoso el matador leva lenta e dolorosamente à morte um animal que devia estar pastando e fazendo, sei lá, as coisas que os touros normalmente fazem
esse espetáculo remonta ao culto pré-histórico do boi como entidade divina sacrificada, e aos gladiadores de roma que se divertiam matando não só touros e outros bichos, mas também uns aos outros
estado de natureza em estado bruto. nada mais natural que o estado das coisas chegue a isso:
acho ótimo. repare que o animal sangra em profusão por causa das banderillas cravadas em seu corpo (6 normalmente). o outro animal deve ter sangrado bastante também. olha que legal a descrição do que aconteceu: “[o chifre entrou] na região submandibular com uma trajetória ascendente que penetra até a cavidade bucal, atravessa a língua, sobe ao céu da boca, com fratura do maxilar superior.” (folhaonline)
tenho desenvolvido um gosto mórbido (vingança?) por descrições técnicas minuciosas desse tipo. gosto tanto quanto o prelúdio ao livro do françois forestier, “marilyn & jfk”. leia um trecho no site da veja: leia mesmo!
e pra quê tourada? tudo muito cretino. ser humano estupidamente absurdo. o objetivo final é esse:
no brasil tinha também. getúlio proibiu em 34, junto com rinha de galo, outra estupidez. a única instância da tourada que eu aprecio é no poema do joão cabral de melo neto, “alguns toureiros”, por causa das peculiaridades próprias à poesia
(…)
Mas eu vi Manuel Rodríguez,
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo,
mais mineral e desperto,o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra
o da figura de lenha
lenha seca de caatinga,o que melhor calculava
o fluido aceiro da vida,
o que com mais precisão
roçava a morte em sua fímbria,o que à tragédia deu número,
à vertigem, geometria
decimais à emoção
e ao susto, peso e medida,(…)
muitos pintores retrataram a tourada; eu gosto desse quadro do manet:
assim é melhor (pela arte ou pelo lado da morte…?)
.
odeio sirene de fábrica
uma forma de acabrestar os funcionários que se sujeitam a ser controlados como bicho, como se fossem incapazes de saber a hora de entrar, almoçar, ir embora. será que peão de fábrica é burro assim? mesmo que seja, as fábricas, curral de boiada, não têm o direito de gritar prolongadamente no bairro em que cravam garras: incomoda demais
o homem é tratado como se fosse máquina: controle minucioso do comportamento e da performance. dois filmes mostram isso lindamente: metropolis, do fritz lang, e tempos modernos, do charles chaplin
turba em marcha: trabalhadores indo/vindo do subterrâneo…
muita gente acha o tempos modernos engraçado, mas se você refletir um pouco, é angustiante. lembra quando o chaplin sai da fábrica? ele não consegue parar de apertar parafuso… a gente ri quando ele aperta os botões do vestido da moça… mas fica um nó na garganta: no fundo a gente sabe que tem muita coisa errada nisso
na hora do almoço uma máquina entuxa comida na boca dele. lembra? pra cortar custos, extinguir a hora do almoço e aumentar a produtividade…
essa cena dele “comendo” me lembra um poema do drummond. como esse homem era sensível pra notar as idiossincrasias do progresso… ele tem mais de um poema sobre os tempos “modernos”. vou por aqui três estrofes. se gostar, vá atrás: esse poema é bom demais: drummond – nosso tempo (c. 1945)
Este é tempo de partido,tempo de homens partidos.Em vão percorremos volumes,viajamos e nos colorimos.A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.As leis não bastam. Os lírios não nascemda lei. Meu nome é tumulto, e escreve-sena pedra.(…)Escuta a hora formidável do almoçona cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso.Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida,mais tarde será o de amor.Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem.(…)O poetadeclina de toda responsabilidadena marcha do mundo capitalistae com suas palavras, intuições, símbolos e outras armaspromete ajudara destruí-locomo uma pedreira, uma floresta,um verme.
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a fábrica aqui do lado do prédio urra (sempre dez minutos antes e então na hora cheia). 6:50, 7:00; 8:50, 9:00; 11:50, 12:00; 12:50, 13:00… tem uma sirene à tarde, mas eu quase nunca ouço, e finalmente 16:50, 17:00. sábados, domingos e feriados. quanta alegria!
o dono é um turco, um daqueles com cara bem estereotipada: gordo, de bigode, meio careca, com cabelo enroladinho super oleoso, camisa aberta até o umbigo mostrando um peito peludo cheio de corrente de ouro… eu não sei muito bem o que a fábrica dele faz… nunca tem mercadoria entrando nem saindo. não tem importância
o entorno da fábrica é um nojo: sempre sujo, a grama na calçada cresce até esconder porco selvagem. as pessoas que passam de carro, talvez por achar que é terreno abandonado (teoria da janela quebrada), jogam todo tipo de lixo, que nunca é recolhido. frequentemente vejo corpo de rato morto atropelado na rua. a única vez em que as paredes foram pintadas foi quando foram erguidas, há 30 anos. e de fato tem um monte de vidro quebrado nas janelas…
dá pra ver a sujeira até nessa foto de baixa qualidade…
sei que já foram conversar com ele sobre isso. ele ignorou. imagina só se ele vai gastar dinheiro com limpeza! (olha o estereótipo em funcionamento…) o único momento em que ele se mistura com a comunidade é em época de eleição: um dos barentes dele sempre se candidata a deputado (?). não sei se se elege. não tem importância. nessas épocas todo o bairro fica cheio de papel no chão… mas acho que isso não é privilégio do meu bairro
à medida em que encerro o post, cresce a tensão, porque daqui a pouco toca de novo a maldita sirene…
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