Think things through

Até agora eu usei a palavra “coisa (s)” 23 vezes. Engraçado isso, não? haha. Right. A gente expressa muita coisa por “coisa”. Aconteceu uma coisa… Senti uma coisa… Vi uma coisa… all Stuff.

Não é a mesma coisa que Thing.

Gone with the Wind

Assisti acho que pela quarta vez “E o Vento Levou”. Esses filmes clássicos, especialmente os de quase 4 horas, são bons de assistir de 3 em 3 anos. É um bom espaçamento de tempo pra gente sentir saudade dos personagens que marcam nossas vidas por 1) serem muito bem construídos e portanto nos entreter demais e 2) por representarem coisas que a gente gostaria de ser. Eu adoraria dançar como o Gene Kelly em “Cantando na Chuva” ou ser engraçado como o Donald O’Connor and make’em laugh.

Não digo que gostaria de passar pelas agruras que Scarlett atravessa (“jamais sentirei fome novamente!”), mas gosto de ver a reconstituição da American Civil War (1861-1865) (feita pro cinema, claro, e tendo a vida dramatissíssima da Miss O’Hara como fio da meada). Não me importaria em ser um Rhett, com todo o dinheiro na Europa, exceto pelas orelhas.

No final (se você não viu o filme, não continue lendo), depois de atravessar inúmeras peripécias, depois da guerra, durante a Reconstruction Era (essa parte é interessante também, por mostrar a construção definitiva do que hoje é os Estados Unidos, irreligiously), com toda aquela ambição, depois de se casar, ter uma filha etc., eles se separam, com a famosa frase dele “Frankly my dear, I don’t give a damn”, depois de tudo o que ela aprontou, claro (e ele também). Mas é sempre triste o fim, ainda mais o desfecho de um grande amor. Ela termina em Tara, a casa da terra vermelha, a fonte da força de Scarlett, o lugar só dela, onde ela sempre gostou muito de estar, mas agora sozinha e meio louca.

Por isso os filmes clássicos são bons. Eles representam ainda hoje o comportamento essencial do ser humano. O Pathos está lá, quer você seja mais romântico ou mais áspero. Você sempre vai se identificar com um personagem ou outro e suas ações.

Muitas coisas acontecem em nossas vidas: experiências, pessoas. Eu gostaria muito que as coisas boas fossem uma constante (e não uma pulsante), que a gente pudesse ter sempre experiências agradáveis e que as pessoas que a gente gosta pra valer pudessem estar presentes todos os dias (Esse é o meu Pathos: mais forte que o Logos e que o Ethos. Não, que o Ethos nem tanto).

Nem sempre é assim. Por isso a idéia no título do filme é ultra apropriada pra representar nossas experiências de vida: Gone with the wind, o que foi com o vento; quantas coisas boas não foram embora com o vento… Gone, em inglês, é “o que foi”, diferente de “o que foi levado”. Pense em inglês: “blown by the wind” é muito diferente de “gone with the wind”.

…e muita coisa a gente tem que deixar ir mesmo. Gone.

After all, tomorrow is another day.

Hyde, Central, Bois de Boulogne?

Ibirapuera. Um dos parques mais gostosos do mundo e definitivamente o mais agradável de São Paulo. Muita gente conhece, mas pouca gente co-nhe-ce. Percebe a diferença? Como todo parque gigante, ele é cheio de lugares “secretos”, cantinhos que a gente descobre com o passar dos anos, frequentando bastante. Cada um tem seu preferido e muita gente nem conta qual é o seu pra não estar ocupado quando chega lá.

Depois de uma vida de frequentador eu achei o cantinho mais legal de lá. Nem adianta perguntar onde é porque eu não conto. Dou só uma dica: fica pertinho do lago… E sabe qual é o melhor horário pra ir lá? De noite. À noite tem mais cinco pessoas lá, além de você e os amigos que foram junto. E muitos seguranças, o que dá uma putz sensação de proteção. Dá a impressão de que se pode deixar o notebook no banco enquanto se vai ao banheiro (please, não faça isso, é só força de expressão).

As noites da cidade são muito mais silenciosas e ali, no meio de uma floresta planejada pelo Burle Marx, ouvindo o farfalhar das árvores ao vento e das asas de um monte de pássaros que volta e meia fazem pequenas revoadas sobre a gente, olhando a superfície absolutamente estática do lago, com uma névoa bem rente, é uma das experiências mais mágicas da vida.

Mas o mais gostoso foi ter estado lá com dois bons amigos. Valeu D. e D. (ih, quem que eu citei primeiro hein?)

Sic transit gloria mundi

Gosto de ler. Mais do que asssistir tv, o que é cômodo demais. Ler dá trabalho, você tem que se concentrar, voltar e ler alguma coisa pra ver se entendeu. Porém, ao final de um livro, a gente tem a satisfação de ter atravessado um outro país, cheio de peripécias e gente que a gente não conhecia.

Li Macbeth outro dia; em inglês. Foi difícil, dicionário do lado (um bom, que inclui palavras medievais) e ao mesmo tempo prestando atenção na riqueza do texto, coisas como saber que foi escrito em verso pentâmetro jâmbico (blank verse), pra quem não sabe, versos sem rima e com o rompimento de uma unidade sintática de uma linha pra outra. Como é uma peça, achei interessante aquela coisa do “Enter” fulano, “Exeunt” todo mundo, pontuando o movimento das dramatis personae. O próximo é King Henry the Fourth. Quero saber exatamente quem é esse Falstaff que sempre ouvi falar.

É muito gostoso atravessar essas veredas por si mesmo. Quantas vezes antes eu não ouvira sobre Macbeth e lady Macbeth. Eles não são nem de perto parecidos com o que eu imaginava. As pessoas comentam bastante sobre Shakespeare e a gente acha que sabe, mas NÃO SABE nada. É uma hstória incrível mesmo; deve ser lida, além de muitas muitas outras coisas que a gente deve ler e provavelmente nunca vai dar conta.

A palavra chave em questão é: seleção. Eu me esforço para selecionar o que eu voluntariamente ponho cérebro adentro. Nem sempre nas patuscadas com amigos eu consigo selecionar o que ouço. Mas, voluntariamente só vou atrás de informações que favoreçam o meu crescimento intelectual, espiritual e biológico – essas coisas engordam…

Dito isto, por que, me digam, por o quê deveria eu me informar sobre nosso fantástico mundo atual? Quem se interessa, além das pessoas mais facilmente manipuladas, pelos telejornais da Globo? Tu-do o que eles transmitem segue a tríade: escândalos reciclados em Brasília, catástrofes recicladas aqui e no mundo, e desinformações recicladas em geral, sempre balizadas por interesse econômico e coberturas parciais beeem tendenciosas. E a CNN e a BBC? Guerra, guerra e conflitos. Como são chatos e desinformacionais esses telejornais… São uma tentativa fútil e incoerente em transformar factóides atuais em História hoje, agora; um esforço vão de antecipar diariamente acontecimentos que supostamente entrarão para a História, com grandes e importantíssimas notícias que serão estudadas daqui a 50 anos. Algumas poucas coisas, sim, com certeza, mas 99,9%, não…

Por isso, meus bons amigos (refiro-me só àqueles que se preocupam comigo e me chamam de alienado), tô fora! Não quero saber quem é o ministro corrupto incompetente da vez. Não quero saber qual é a mamata gostosa denunciada neste mês; é só mais uma. Sim, o que eles “fazem” (mais apropriado, deixam de fazer) afeta a minha e a sua vida com certeza. Mas eles fazem muito mais coisas que a gente nunca saberá. E isso é corrente. O fato de o acadêmico FHC ter supostamente “reservado” 1bi nas ilhas Caiman para sua “aposentadoria” nos afeta? Claro. Collor roubou? E como! Mas saber isso não me fez mais feliz, nem mais rico, nem mais consciente ou participativo na nossa linda sociedade democrática. E olha que eu fui um dos caras pintadas. Na verdade eu gostaria que não fosse assim. Mas, lembre-se: o ser humano muitas vezes reproduz o papel de um vírus, “corroendo” tudo ao seu redor. Depois do Sarney (vômito) veio o Collor (úlcera), depois veio o FHC (nausea) e depois o Lula (nulo, nulo, nulo). E tudo continuará sempre igual. Não, não se engane. É assim desde chineses, gregos e romanos, que souberam muito bem criar e explorar burocracia, democracia e lobby. É e será sempre assim em qualquer país, em toda a linha da História, sempre que o homem, esse pequeno vírus devastador, continuar a habitar o planeta.

Eu não posso mudar isso (a natureza do homem e a política). Por isso, alienar-me-hei cada vez mais desse mundo que deveria informar e tornar as pessoas melhores, mas faz o contrário. Vai entender. Ferramenta estranha a TV. A que propósito serve? Sem falar nas propagandas. Pra mim é uma lavagem cerebral (alguém aí já reparou na quantidade de inserções da colgate, por exemplo, entre tantas outras empresas interessadas em “dominar o mercado”…?).

Gosto de digerir coisas boas e úteis. Por isso, continuarei lendo Shakespeare, Milton, Kafka, Baudelaire, Machado, Bandeira, Mário et al.

Entretanto, sendo possível mudar alguma coisa, conte comigo para uma manifestação, jogar ovo em ministro ou para quebrar as janelas da casa do Maluf. Isso seria divertido. E útil. Muito mais do que assistir TV. Mas menos que ler um bom livro.