The Brain & Evil

Acabei de ter uma epifânia, um insight, assistindo um desses documentários maravilhosos sobre o cérebro na tv (ok, eu normalmente odeio o que passa na tv, mas dessa vez foi legal). O cérebro é incrível por suas inúmeras subdivisões (amígdala, lobo temporal, hipotálamo etc.). O cérebro dos psicopatas, por exemplo, se caracteriza por não conseguir entender o sofrimento dos outros, porque o centro de identificação com o outro é muito menor do que o de uma pessoa “normal”. Não processa. Eu sinto vontade de estrangular uma puta e, por mais que ela sofra durante o lento, doloroso, gradual e quiçá sangrento processo, não me identifico com ela, com sua dor, com o seu sofrimento psíquico. Por isso a mato de um jeito cruel e imoral (para a maioria das pessoas). Pode ser anti-ético ou não, dependendo do grupo sendo observado. Eu quero, e isso basta. Incrível isso não?, não fossem as constatações todas da ciência.

Se uma pessoa faz mal a outra, sabendo que a prejudicou, ela pode ser punida (dependendo do advogado). Caso ela não perceba que prejudicou a outrem, será submetida a um longo e subjetivo processo de avaliação.

Afinal, o que é o Mal? O que exatamente é aceito e tolerado por um grupo?

Roubar é mal? Enganar? Matar? Tirar proveito da estrutura pré-estabelecida, da Máquina, do que “acontece normalmente” de uma forma ou de outra em benefício próprio é errado? Prejudica os outros? Mas… prejudica de um jeito pior, mais do que me beneficia?

É mal, sim. Achar que só porque os outros fazem/fizeram tal coisa permite que você dê continuidade a uma determinada ação é errado sim! Porque alguém rouba tradicionalmente aqui, não quer dizer que é certo. Porque em um dado grupo social matam-se as putas, continuo achando isso errado. Pelo menos no meu sistema de crenças, do meu código moral e ético. Vai ver minha amígdala é um pouco maior. No meu íntimo, lá dentro da alma, eu sempre sei se o que fiz ou estou prestes a fazer é certo ou não.

grupo de neurônios, no sistema límbico: stress, raiva, reação, agressão, sexo

Matar putas (tadinhas delas… servir de suporte pra minha argumentação…), roubar, enganar… Tudo isso é muito ruim, muito errado. Especialmente pensando na suposta evolução do ser humano. Como tornar a civilização melhor quando seus membros fazem coisas erradas sabendo que são erradas? Eu me esforço pra desenvolver parcerias positivas com todo mundo ao meu redor, desde os meus amigos até os garis que varrem as ruas do meu bairro (eu sei o nome deles: Gaspar e José. O Gaspar é uma ótima pessoa, adora conversar, mas infelizmente vai trabalhar numa região mais próxima da casa dele. Não é estranho que os garis tenham que trabalhar em bairros que não são o lugar onde eles moram? Eu acho muito importante a gente cuidar das redondezas do lugar onde a gente mora; fico bravo quando escuto o barulho de uma latinha de cerveja jogada na rua. Jogar lixo nas ruas é uma coisa que sempre me deixa inconformado). Quando eu me desvio daquela minha conduta esperada, eu sou o meu próprio e mais severo julgador (eu ia dizer juíz, mas eles em geral tomam decisões estranhas também, contrárias ao bom senso…).

A publicidade engana e ludibria o tempo todo. Convence as pessoas a consumir um determinado produto com base em falsas premissas, ou em premissas vazias. Força as pessoas a comprar coisas que elas não querem, a priori. Isso sustenta a nossa sociedade e é muito muito errado. O tal infamous Consumo. Essa discussão vai longe e fica pr’uma próxima. Todo mundo sabe afinal e lá no fundo que isso é errado, que tem alguma coisa errada com os comerciais. Mais alguém aí já percebeu e sabe que eles usam constante e impunemente uma série de artifícios subliminares para induzir mais consumo? A Colgate por exemplo coloca um apitinho irritante e bem baixinho – pi…pi…pi…pi…pi… – nos comerciais de creme dental. Como eu tenho uma audição extraordinária, eu me peguei outro dia incomodado com alguma coisa, um alarme chamando minha atenção para a tv. Muito sutil. Absolutamente inaceitável.

Acabei de assistir a “Como fazer carreira em publicidade“. Um dos filmes de humour britânico mais inteligentes e perspicazes do mundo! Procure na sua locadora; você vai gostar.

ah... a consciência ali embaixo...

Mas, voltando ao assunto da psicose (roubar, matar, enganar), tudo o que a gente faz tem uma consequência. Para nós mesmos ou para os outros.

Durante a execução de todas as nossas ações a gente ouve uma vozinha, lá no fundo, dizendo se o que isso que a gente está fazendo é certo ou errado. Isso é real, pois certo e errado são conceitos únicos e universais (universal significa que inclui os ETs em outras galáxias também). Todo mundo sempre sabe, no fundo, se o que está fazendo e até pensando é certo, ou errado. A gente sabe. Mais do que sabe, sente.

Menos os psicopatas.

E isso me leva ao argumento final e conclusivo: Os políticos, os advogados, os publicitários (me desculpem se eu exclui alguma categoria) fazem coisas sabendo que essas coisas são erradas, pois elas vão, SIM, prejudicar outras pessoas, em maior ou menor grau. Ou porque as privam ou porque as aleijam ou enganam ou roubam. Ninguém pode prejudicar os outros, sem ser considerado um psicopata. Alguém aí assistiu The Corporation? Esse filme estabelece uma relação direta entre as corporações e a psicopatia. Faz um par perfeito com “Como fazer carreira…”. Só que este é uma comédia e aquele é sério.

Os políticos que roubam (acho que são todos) ou que têm salários astronômicos, além dos inúmeros e inusitados perks mais do que vergonhosos, os advogados do diabo, os publicitários (podia incluir muita gente aqui também, como a maioria dos líderes religiosos etc.) terão um pequeno e passageiro drama de consciência. Nada que uma viagem gostosa pelo mediterrâneo e uma bíblia recheada de dinheiro não resolvam…

Serão eles também psicopatas?

Afinal, qual a quantidade de sofrimento alheio inflingido ou prejuízo é tolerável?

Nenhuma. Nenhuma.

Vivemos em uma sociedade de psicopatia. Alguns percebem isso.

Enfim, uma das maneiras de protesto mais racionais, que eu pratico e recomendo, é o voto nulo. Pense que grande revolução pontual se a porcentagem de votos nulos fosse, digamos, 40%… Não ia ter que mudar alguma coisa?

Está interessado pela psicopatia da elite ancestral? Veja esse vídeo no youtube. Ele tem 3 partes de 10 minutos cada e vale muito a pena assistir.

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Hyde, Central, Bois de Boulogne?

Ibirapuera. Um dos parques mais gostosos do mundo e definitivamente o mais agradável de São Paulo. Muita gente conhece, mas pouca gente co-nhe-ce. Percebe a diferença? Como todo parque gigante, ele é cheio de lugares “secretos”, cantinhos que a gente descobre com o passar dos anos, frequentando bastante. Cada um tem seu preferido e muita gente nem conta qual é o seu pra não estar ocupado quando chega lá.

Depois de uma vida de frequentador eu achei o cantinho mais legal de lá. Nem adianta perguntar onde é porque eu não conto. Dou só uma dica: fica pertinho do lago… E sabe qual é o melhor horário pra ir lá? De noite. À noite tem mais cinco pessoas lá, além de você e os amigos que foram junto. E muitos seguranças, o que dá uma putz sensação de proteção. Dá a impressão de que se pode deixar o notebook no banco enquanto se vai ao banheiro (please, não faça isso, é só força de expressão).

As noites da cidade são muito mais silenciosas e ali, no meio de uma floresta planejada pelo Burle Marx, ouvindo o farfalhar das árvores ao vento e das asas de um monte de pássaros que volta e meia fazem pequenas revoadas sobre a gente, olhando a superfície absolutamente estática do lago, com uma névoa bem rente, é uma das experiências mais mágicas da vida.

Mas o mais gostoso foi ter estado lá com dois bons amigos. Valeu D. e D. (ih, quem que eu citei primeiro hein?)

Habitat

Todos os bichos têm* um lugar gostoso e natural pra viver. Os leões vivem em savanas, lugar grande pra correr e caçar comida. Os pinguins vivem naqueles lugares frios, com montanhas magníficas e perto do mar congelante. As aves no céu e os peixes na água. Tem muito bicho que gosta de viver embaixo da terra também. Todos eles têm em comum o prazer de viver no lugar em que gostam, comendo o que gostam e fazendo o que gostam.

Esse é o grande problema dos homens. Um bicho capaz de destruir o lugar em que vive tanto quanto um vírus, uma célula cancerosa. O homem se estabelece em um lugar e, em uma década ou duas, destrói tudo, corroendo a paisagem com um cancro cimentado. E não é feliz, como supõe-se os vírus. Não vive como gosta, não come o que gosta e não faz o que gosta. E não adianta vir pra cima de mim com esse neomarketing de auto-ajuda da pós-industrialização: se tem horário pra chegar, pressão por metas em escala e convivência forçadamente simpática com seres desinteressantes com o único objetivo de sobreviver (leia-se viver onde não gosta, comer o que não gosta e comprar), tudo é uma merda.

Por isso o homem é um bicho diferente e infeliz, no núcleo duro. A gente (sou um ser humano também, por isso me incluo) vive a teoria da sobrevivência do Darwin do jeito mais burro: o mais forte nem sempre é o mais apto e digerir a inteligência alheia deve dar muitos gases mesmo.

Fecho com Rousseau, que no século XVIII anteviu tudo isso que eu sinto e você deve sentir também:

“O homem que fala em “Estado da Natureza” fala sobre um estado que não existe mais, que pode nunca ter existido, e que provavelmente nunca existirá. É um estado sobre o qual devemos ter, mesmo assim, uma idéia adequada para julgar corretamente nossa condição atual.” (Prefácio ao Discurso sobre a Desigualdade, 1754)

Pra finalizar:

“A maioria de nossos males é obra nossa e os evitaríamos, quase todos, conservando uma forma simples de viver, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza.”

Eu: é doente perseguir uma carreira, se esforçar pra construir algo que a maioria das pessoas nem entende ou entende e se vende ou compra. O ser humano se esforça pra ser um leão que decide o que os outros leões devem fazerm pelo “bem mútuo” (na verdade o ser humano não pensa em bem mútuo, desculpa), traduzido em símbolos de status – dinheiro ou poder. Muitos pinguins ricos ou poderosos querem determinar como e onde os outros pinguins devem investir seus talentos, para construir uma carreira bem sucedida e colaborar com a bem estar comum (mais uma vez, desculpa, o ser humano não pensa nisso, muito MENOS nas nossas modernas corporações).

Isso tudo é muito triste. Mas acho que eu é que sou um misfit. Vou virar um eremita nas montanhas…

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* as novas regras do português são um saco. Os países lusófonos ainda escrevem e continuarão a escrever de jeitos distintos. Querer unificar a grafia de culturas tão diferentes é uma das coisas mais idiotas que essa gente “acadêmica” poderia ter inventado. A língua de um país se modifica naturalmente, com o passar dos anos. Em cada país, de um jeito diferente. E nunca porque a autoridade determinou. Eles não percebem isso? Eu vou continuar a escrever do meu jeito certo; sem o trema, claro.

Recycled Wisdom

Eu não tenho paciência com pessoas inferiores a mim. Não me preocupo com isso. Não que eu seja superior. Eu tento. Mas como é difícil lidar com pessoas que fazem questão de não saber. Tão ruim quanto isso é lidar com pessoas que acham que sabem. Muita gente deve ter essa impressão de mim. E eu sei muito pouco mesmo.

O que fazer com o conhecimento que dá a impressão do saber? Transformar a informação em conhecimento é confuso. Pior ainda se envolve ação. Me preocupo hoje em dia mais com a sabedoria, aquele processo que ocorre interiormente, quando a gente está quietinho conversando com a gente mesmo, depois de ler coisas interessantes, por exemplo. Como a gente vai compartilhar uma experiência tão pessoal e subjetiva? Poucos entendem. Sequer interessa. Oscar Wilde disse que toda arte é inútil. Acho que a gente deveria estender esse conceito à sabedoria.

É tudo um pouco complicado. As pessoas julgam umas às outras pelo que têm. E é um saco tentar participar de um grupo quando seus membros constituintes se julgam tão importantes por possuirem coisas ou ocupações pomposas. É uma das experiências sociais mais vazias do mundo. Raramente essas pessoas acrescentam conhecimento. Não que nesses momentos seja impossível rir. E ri-se muito, todos felizes demais. Mas sem legar nenhum fruto espiritual. A gente sai desses encontros com uma sensação de vazio, sem acrescentar nada, NA-DA. Antigamente conhecimento era transmitido por interações sociais. Isso é cada vez mais raro, ou só para poucos, o que é um dos conceitos mais imbecis do mundo moderno.

Obrigado aos meus bons amigos que me fazem querer saber mais.

6 Years before the Common Era

Não é interessante que a Era Comum mesmo para ateus e gnósticos tenha começado com o nascimento de um tal profeta de nome Jesus? E não é mais interessante ainda que ele tenha nascido 6 anos antes do que damos por certo? Veja que abalo ao nosso sistema de crenças: o ano zero aconteceu no ano 6 a.C. Segundo essa nova perspectiva, eu nasci em 1967, mas supostamente devo continuar tendo a mesma idade, eu acho – matemática nunca foi o meu forte.

Só não sei agora (e isso me aflinge deveras) se a previsão do calendário Maia para a destruição definitiva do planeta continua valendo para o ano 2012…