chaos

olha o que o ser humano é capaz de fazer:

nada de especial aconteceu: só um semáforo sem funcionar...

dá pra ter esperança na humanidade assim? não, não dá: é foda. preste atenção: o semáforo queimou e os animais dentro de cápsulas de aço criaram um bonito padrão de tecitura sobre o asfalto. é preciso um certo treino nas belas artes para apreciar a intricada trama…

eu sinto cada vez mais repulsa em me locomover pelo trânsito da cidade porque as pessoas não tem a menor noção de cidadania, nem respeito um pelo outro. mais, o ser humano é um bicho tão burro, mas tão burro, que não é capaz de ceder um pouco, nem que seja em benefício próprio. sua visão estratégica estende-se por 3 milímetros à frente do nariz. burro, egoísta, animalesco. e nem teve ameaça de revolta contra a população burra por parte do pcc… lembra que comparam o comportamento das pessoas a galinhas em pânico? essa imagem é do Drummond. leia. preste atenção à parte em que ele fala dos homens voltando pra casa, menos livres, levando jornais…

Drummond

A flor e a náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cizenta.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
.
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que triste são as coisas, consideradas em ênfase.
.
Vomitar este tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam pra casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
.

le “nouveau” rock français

estou em uma fase intensa de ouvir música en français

a gente aqui no brasil está tão acostumado a ouvir as mesmices que a indústria musical americana entucha goela abaixo que esquece que existe música, muito BOA música, em outros países e em outras línguas

não me entenda mal: adoro música em inglês (e em português, claro), mas só recentemente descobri as maravilhas do rock em francês

as minhas mais últimas e deliciosas descobertas en français, par ordre de préférence:

1. miCkey[3d]

2. [karkwa]

3. jean leloup

4. les têtes raides

5. malajube

6. eiffel

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jouir de ces chansons: je sais que je les aime beaucoup

os websites do karkwa e do têtes raides são MUITO legais!

se você clicar nos links numerados, vai conhecer os sites de cada banda; os dois links acima levam à wikipedia

a palavra “nouveau” no título do post está entre aspas porque essas bandas tocam há bastante tempo; eu que só as descobri recentemente…

vou colocar esses sites como homepage no meu navegador pra ficar mais atualizado:

http://www.allmusic.com/

http://pitchfork.com/

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puke

os posts no meu blog tem o movimento catártico do vômito: eu sei quando quero escrever – tanto quanto sei quando preciso vomitar. muitas vezes não quero escrever, mesmo quando sei que seria bom escrever – tanto quanto sei que vomitar seria bom, especialmente quando bebi demais ou comi coisas estranhas à flora intestinal e aos movimentos peristálticos, por exemplo

passo um bom tempo sem escrever no blog – tanto quanto passo meses sem vomitar (antes que alguém imagine: não, não tenho vomitado ultimamente, nem seria isso motivo para inserir novo post em meu querido blog)

mas por que, então, tanta escatologia? por que associar o exercício da intelectualidade ao vômito? respondo, do meu jeito: porque as coisas que mais me incomodam são muito parecidas com o vômito: elas ficam dentro de mim, seje dentro do estrômbalo, seje dentro do cérbero

eu boto adentro uma porção de coisa que num devia. a maioria dessas coisa é uma dilíça quando entra, e todomundo já entendeu que na maioria das vezes é uma merda quando sai; seje merda literalmente (no âmbito físico de falar), seje em pensamento (no âmbito abstrato-subjetivo-intelectual de falar)

e daí? (gosto de dialogar com os meus leitores…) algumas coisas ficam ecoando – e esse é o poblema. como e bebo muitas coisas estranhas. física e espiritualmente. em geral tudoisso envolve arrependimento. mas a questão aqui é o que já SEI que NUNCA mais quero por adentro – seje pela goela, pelo canal auditivo, pelo nervo óptico, e, às vezes, até pelo cólon sigmóide…

é carnaval agora, e todomundo, no brasil, pelomenos, está pensando em que lugar vai sambar, gritar, beber… por que? POR QUÊ?? por quê fazer de conta que em uma semana tudo é alegria exacerbada e inconsequente e tudo pode???

(vômito)

porque a mídia assim O vende. tanto quanto o natal, tanto quanto qualquer outra festa idiota e artificial que venda, aumente a ocupação hoteleira, gere receita… e assim o mundo gira?

pense, pense, PENSE

é assim que o serumano vive? tudo bem que é uma oportunidade pra beber rir trepar vender e até incluir… mas, precisa a TV fazer uma COBERTURA ONIPRESENTE para a ser humano se soltar? (seja no natal, na quermesse, no carnaval…?) a gente – é, sempre me incluo… -, não poderia se soltar sempre e de um jeito natural?

olha a imagem que o brasil vende pro mundo: bunda cachaça putaria…

(vômito)

pra mim o carnaval e a alegria falsa têm – mui apropriadamente – esta cara:

Alfred E. Neuman RULES!!!

Alfred E. Neuman RULES!!!

alguém aí se preocupa com os inúmeros escândalos políticos? um após o outro, vezes mil por ano, todos insolventes…

natal, carnaval, corpus christi, páscoa…

tudo a mesma merda… e tudo muito cheio de hi-po-cri-sia. vamos fazer de conta que está tudo bem… ATÉ QUE PONTO??

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recomendação do dia: leia tudo o que puder sobre desobediência civil

estou cada vez mais fazendo proselitismo das idéias do H.D. Thoreau

aqui tem um pouco: leia este texto

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just_do_it

faça

try

essayer

você também

tente

emerson did

aristotle did

faire des choses

não adianta deixar pra amanhã – para seu próprio conforto espiritual

emerson: finish each day and be done with it. you have done what you could. some blunders and absurdities no doubt crept in; forget them as soon as you can. tomorrow is a new day; begin it well and serenely and with too high a spirit to be encumbered with your old nonsense

xmas by a grand penseur

o natal chegou. de novo… eu só sei porque vejo ruas prédios casas escolas bancos cheios de enfeites luzes bonecos neve anões

essa época do ano é muito esquisita. todomundo é coagido a sentir que precisa ser feliz. isso está profundamente incutido no cérebro, resultado de anos de lavagem cerebral pela mídia

as pessoas sentem uma urgência para consumir: querer comprar: presente comida amigo afeto

um comportamento já transformado em cultura por anos de transmissão de tradições

tudo muito artifical: neve. em um país em que a temperatura em dezembro gira ao redor de 30 graus…

além da essência comercial -o grande fulcrum do natal nas sociedades modernas-, muitas coisas ainda são ligadas à religião. ops, hein? é. re-li-gi-ão. não, sinto desapontar, mas a origem do feirado não é comercial, é religiosa. não foi inventado pra vender panetone, e sim para celebrar o nascimento de jesus. quem?

tudo muito cheio de hipocrisia. a realidade da sociedade é tão diferente do que o feriado deveria celebrar… a gente vive feito animal em selva: só o mais forte sobrevive etc., mas no natal…

veja esta foto que o meu amigo “alex” (este apelido tão americanizado foi utilizado para ocultar a verdadeira identidade pessoal humanística cadastrativa do elemento homo universalis) tirou em uma de suas inúmeras incursões entre o povo, o verdadeiro povo brasilien:

serendipitous a.

papail noel existe E está entre nós; olha só QUANTOS PRESENTES ele traz

o natal já passou agora, mas pense nisso quando for passear em um templo de consumo BEM artificial no fim deste ano

ultimamente eu tenho sentido muito mais vontade de me sentar ao lado desse cara aí da foto do que de colocar uma roupa bunita e fugir da realidade em ambientes de manipulação coletiva, nos quais só falta as pessoas receberem uma injeção de estupidez logo na entrada – pra poder consumir more

.

ps: le grand penseur n’est pas moi, mais alex -pour ceux qui pensait que j’étais un grand penseur…

Tenebral Age

Eu me interesso pelos nomes dos períodos históricos:

Pré-história, Mundo Antigo, a escura Idade Média, as inúmeras eras e sub-eras: Era Moderna, Era do Renascimento da Razão, da Reforma, da Iluminação, das Descobertas, do Romantismo…

Sempre achei peculiar a pré-história não ser considerada como história, apesar de ser história. O “Antes da história”. Mas se eles existiram, se deixaram monumentos (Stonehenge), se têm também sub-eras (Pedra, Bronze, Ferro)… Supostamente o “Antes da História” existe do surgimento do Universo (BUM!) até o momento em que a escrita surgiu. Será que isso é coisa do Heródoto de Halicarnassus? Eu chamaria esse período de a Era Alongada (the Warp Age). Pronto; além do nome do meu cachorro, dei nome pra uma segunda coisa na vida. Que alegria. Acho mesmo que o Heródoto cochichou aqui no meu ouvido.

Vou dar nome pra uma terceira coisa e acho que isso vai fazer o meu nome entrar pra História. Não hoje. Essas grandes e revolucionárias idéias só são descobertas tardiamente e, pra minha tristeza, essa minha serendipidade só será reconhecida após a minha morte. De forma que o Prêmio Nobel fica pros netos que nunca terei, ainda que eles pudessem dizer “meu vovô que deu o nome pra essa era”:

A Era Tenebral, The Tenebral Age. Já tava na hora de alguém traçar uma risca e determinar o fim da Era Contemporânea. Tem início agora, a partir do ano 2000 – não é um bom marco? – um novo ciclo da miséria humana, marcada por novas desgraças e poucas mas interessantes descobertas que fazem a gente continuar. Fica também determinado que a Era Tenebral irá durar dois séculos. Eu criei o nome, determinei seu onset histórico, posso também estabelecer sua duração.

Post lux tenebras

Tenebras em latim quer dizer escuro, sombrio. Tenebroso deriva dessa palavra. E é esse mesmo que deve ser o nome do período da História em que a gente vive. Mas nada muito diferente do que sempre foi: parecido com a Idade Média, mas agora a gente lava as mãos antes de comer.

Time Bomb

with the coming of ages our heads usually do explode

A Era Tenebral. E o que dirão os historiadores sobre a minha importância e sobre a minha era daqui a dois séculos? Creio mesmo que eles nos verão mais ou menos como uma fusão entre feudalismo e capitalismo. Hoje em dia existe muito mais circulação e variedade de moedas, um pouco mais de pessoas têm acesso à elas, mas essencialmente continua a grande massa a viver dentro de um feudo, um burgozinho sem fronteira, com tanta alienação quanto antes, quiçá um pouco mais por causa da tv, quiçá apenas um pouco diferente. A tv aliás tem hoje, na Era Tenebral, o papel da igreja católica: manipulação para a ignorância.

Somos todos um bando de pessoas absurdas, correndo apressadamente pra lugar nenhum e sem nenhum propósito. Tudo muito subjetivo, apesar de a subjetividade ser objetiva em um esquema racional de percepção, apesar de a percepção ser irracional e implicar iminência*.

Se eu fosse ignorante, isso não seria problema seu.

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* Vou identificar a fonte dessa brincadeira sobre a objetividade da subjetividade: Love and Death, Woody Allen. Estou apaixonado, mais do que antes, pelo humor desse cara. Alguém aí já assistiu Desconstruindo Harry? É muito engraçado. Hoje é dia de assistir Annie Hall (em português noivo neurótico, noiva nervosa).

plot unveiled

sabe aquelas denúncias que a tv sempre apresenta contra políticos sobre todas as imundícies possiveis? pois é, acabei de ficar encasquetado com uma coisa. acho mesmo que isso é mais uma das minhas mais últimas tristes constatações. qual a idéia: eles falam falam e falam e a gente fica estupefato com tudo mesmo, as imagens, o discurso (sempre o mesmo), quer seja uma coisa bonitinha, quer seja uma dessas coisas que fazem a gente vomitar de tanta raiva frustração impotência, e fica preso às imagens e ao discurso através de uma força magnética hipnotizante, seja consciente, seja subliminar.

essa mesma tv muitas vezes é útil. tem muita coisa instrutiva passando na tv, se você tem paciência de ficar zapeando até achar um programa legal. leva tempo e muitas vezes o nome do filme não confere com o que está passando… mas o que escasqueta afinal?

eles ganham muito muito dinheiro vendendo espaço para vendas. essa venda é feita através de imagens e discursos sedutores irresistíveis. a associação com instintos primitivos (fome sexo cocô) é tão forte que o apelo se transforma e culmina em orgasmo. e porque essa quantidade enorme de ovelhas que dão audiência para a tv ficam imantadas à tela? fácil. eles criam dificuldades para vender soluções. o ser humano adora desgraça. é atávico (desde a época das cavernas). ver catástrofe acidente denúncia espanta mas é gostoso. vem acompanhado de um monte de imagem, discurso e hipnotiza a gente. a gente até enraivece com a denúncia a catastrofe o time de futebor, mas no finar eles vendem felicidade (conceito vazio). e nada é ÚTIL. nada. mas a gente gosta mesmo assim. afinal comer chocolate, comprar carro, torcer pelo time, beber e comer feito idiota, e surtar de prazer vendo alguém sendo enforcado em praça pública é atavicamente orgásmico…

e daí? o quê encasqueta? a idéia da tv é essa mesma… mas vou dar um exemplo do quê irrita. o sarney, aquele mesmo sarney secular, que desgoverna o país e o maranhão (não necessariamente nessa ordem) há bastante tempo, dono de um dos estados mais pobres do país (seguido de perto pelo collor, aquele mesmo, também lá em cima, com poder para tomar decisões por todos nós), foi alvo de uma campanha demorada de denúncias porque o senado, o filho, a filha, os parentes… um certo canal globo foi um dos mais assíduos em denúncia e inconformidade. quase tanta comoção e surpresa quanto a expectativa pelo último capítulo da novela ou a curiosidade pelos personagens da novela que começa na próxima segunda-feira. é TUDO IGUAL: a novela e as notícias, as imagens e o discurso. denúncia felicidade denúncia.

por que a tv está vendendo o estado do maranhão através de uma série especial de reportagens para atrair mais turistas pra lá? o dono do maranhão não é esse mesmo sarney que se envolveu nas piores falcatruas possíveis a um ser humano corrupto imoral? então por que a globo faz propaganda pra esse cara? não é a própria globo quem faz um escândalo reiterante eterno sobre denúncias lascivas contra esse cara?

a economia.

as pessoas gostam disso. todomundo alheio à vida. criar um congestionamento de 10km por causa de um acidente. dos dois lados da via. repetição. lavagem cerebral. ignorância. todomundo absorto em sonhos fúteis despertados pela tv. define drug.

hello? quem tá aí? just nod if you can hear me

*

foot-dragging: deliberate reluctance

Acordo bem cedo, me visto, dirijo sozinho pro trabalho, coloco um crachá com um nome, tiro o cérebro de dentro do crânio e o coloco numa gaveta.

Passo as próximas nove horas sorrindo pras pessoas, fazendo de conta que estou interessado na felicidade delas, tolerando a companhia dos meus colegas de trabalho, olhando pro relógio.

No fim do dia tiro o crachá com um nome, tiro o meu cérebro da gaveta e ponho de volta na cabeça, caminho pelo estacionamento, dirijo sozinho pra casa.

E isso é muito, muito, muito chato.

Parece que tenho que fazer isso por muito, muito tempo.

.

Nancy Botwin – Weeds

mrb

If you work for a living, then why do you kill yourself working?

Über plushness

20 class a cigarettes. Vejo isso desde a adolescência. Sempre me perguntei do porquê de tanta incorreção: se é plural – cigaretteS -, eles não deveriam suprimir o artigo indefinido? Ou a idéia é 20 Class “A” cigarettes. Existe Class C cigarettes? Se houvesse, eles o venderiam como tal?

Essa discussão sobre concordância numérica me fez lembrar de um episódio da minha infância. No ônibus que me levava de casa pra escola et vice versa, havia um adesivo na parte superior do pára-brisa, uma propaganda (provavelmente o ônibus escolar era patrocinado pela empresa…): Molas Padroeira. Nossa, isso me encasquetou por muito tempo… Acho mesmo que eles deveriam ter contratado um publicitário pra ajudar a criar o nome da empresa…

Depois de anos de convivência com a língua inglesa, aprendendo muitas coisas pequenas aqui e ali, hoje sou capaz de sugerir uma outra leitura para o label dos cigarettes: vernacular. Eles vendem o produto usando a língua do povo. A interpretação definitiva da frase é a condensação de “of” em “a”. Ao invés de dizer “20 class of cigarettes”, eles preferem a frase coloquial “20 class a cigarettes”. Não é bem melhor assim? A culpa é deles se não há diferenciação entre maiúsculas e minúsculas. Se eu fosse o cara do marketing (MKT), eu diria “20 classy cigarettes”. Assim é melhor.

Não é engraçado, pra dizer o menos, as frases que esse povo é capaz de criar para seduzir o povo e vender uma determinada merda? Tome o caso, e.g., dos produtos incrivelmente maravilhosos que conquistaram o coração e o bolso de mulheres, que variam entre bobinhas e ingênuas, da Victoria’s Secret. Ai, que gostoso esse ideal de consumo, querer ser igual àquelas modelos… Ultimamente eu tenho notado que, de 10 mulheres da classe média que eu conheço, 9 compram produtos “importados oficialmente” da Victoria’s Secret. Essencialmente cremes. Moisturizers. Eu incidentalmente tive a curiosidade de ler o rótulo de um desses cremes, explicando o que ele é/faz. Olha que inspirador:

Slip into petal softness with our

Skin-Silkening Body Lotion.

Enriched with natural skin soothers,

conditioners, and sensual fragrance,

it leaves skin soft, silky and

scented with sparkling Pear Glacé.

Nossa, quase bebi o negócio…

Veja só se não é quase um ato sexual (vou fazer uma versão para o português):

Mergulhe dentro da suavidade das pétalas com nossa loção que faz sua pele se transformar em seda. Enriquecida com amaciantes naturais (eles sempre dizem isso. How to get ahead in advertising, anyone? Cê sabe, né, essencialmente é tudo uma mistura muito química…), condicionadores, e uma fragrância sexual, ops, sensual, ela deixa a pele macia, sedosa e perfumada com um glacê cintilante de pêras” (??).

Fez escola.

Ainda faz, quando um advertiser quer vender alguma merda… Seja cigarro, seja creme. Haja crasse!

.

A minha postagem neste blog está começando a parecer Twitter – na minha opinião, uma dessas idiotices fenomenais que eu não entendo e que fazem adolescentes virar milhonários (sic).

Haja prolificiduidade (prolífico com assiduidade). Quanta contradição com os meus princípios: ora eu escrevo a cada dois meses, ora 20 posts por dia. Acho que estou a meio caminho de ostentar novos princípios…

The Brain & Evil

Acabei de ter uma epifânia, um insight, assistindo um desses documentários maravilhosos sobre o cérebro na tv (ok, eu normalmente odeio o que passa na tv, mas dessa vez foi legal). O cérebro é incrível por suas inúmeras subdivisões (amígdala, lobo temporal, hipotálamo etc.). O cérebro dos psicopatas, por exemplo, se caracteriza por não conseguir entender o sofrimento dos outros, porque o centro de identificação com o outro é muito menor do que o de uma pessoa “normal”. Não processa. Eu sinto vontade de estrangular uma puta e, por mais que ela sofra durante o lento, doloroso, gradual e quiçá sangrento processo, não me identifico com ela, com sua dor, com o seu sofrimento psíquico. Por isso a mato de um jeito cruel e imoral (para a maioria das pessoas). Pode ser anti-ético ou não, dependendo do grupo sendo observado. Eu quero, e isso basta. Incrível isso não?, não fossem as constatações todas da ciência.

Se uma pessoa faz mal a outra, sabendo que a prejudicou, ela pode ser punida (dependendo do advogado). Caso ela não perceba que prejudicou a outrem, será submetida a um longo e subjetivo processo de avaliação.

Afinal, o que é o Mal? O que exatamente é aceito e tolerado por um grupo?

Roubar é mal? Enganar? Matar? Tirar proveito da estrutura pré-estabelecida, da Máquina, do que “acontece normalmente” de uma forma ou de outra em benefício próprio é errado? Prejudica os outros? Mas… prejudica de um jeito pior, mais do que me beneficia?

É mal, sim. Achar que só porque os outros fazem/fizeram tal coisa permite que você dê continuidade a uma determinada ação é errado sim! Porque alguém rouba tradicionalmente aqui, não quer dizer que é certo. Porque em um dado grupo social matam-se as putas, continuo achando isso errado. Pelo menos no meu sistema de crenças, do meu código moral e ético. Vai ver minha amígdala é um pouco maior. No meu íntimo, lá dentro da alma, eu sempre sei se o que fiz ou estou prestes a fazer é certo ou não.

grupo de neurônios, no sistema límbico: stress, raiva, reação, agressão, sexo

Matar putas (tadinhas delas… servir de suporte pra minha argumentação…), roubar, enganar… Tudo isso é muito ruim, muito errado. Especialmente pensando na suposta evolução do ser humano. Como tornar a civilização melhor quando seus membros fazem coisas erradas sabendo que são erradas? Eu me esforço pra desenvolver parcerias positivas com todo mundo ao meu redor, desde os meus amigos até os garis que varrem as ruas do meu bairro (eu sei o nome deles: Gaspar e José. O Gaspar é uma ótima pessoa, adora conversar, mas infelizmente vai trabalhar numa região mais próxima da casa dele. Não é estranho que os garis tenham que trabalhar em bairros que não são o lugar onde eles moram? Eu acho muito importante a gente cuidar das redondezas do lugar onde a gente mora; fico bravo quando escuto o barulho de uma latinha de cerveja jogada na rua. Jogar lixo nas ruas é uma coisa que sempre me deixa inconformado). Quando eu me desvio daquela minha conduta esperada, eu sou o meu próprio e mais severo julgador (eu ia dizer juíz, mas eles em geral tomam decisões estranhas também, contrárias ao bom senso…).

A publicidade engana e ludibria o tempo todo. Convence as pessoas a consumir um determinado produto com base em falsas premissas, ou em premissas vazias. Força as pessoas a comprar coisas que elas não querem, a priori. Isso sustenta a nossa sociedade e é muito muito errado. O tal infamous Consumo. Essa discussão vai longe e fica pr’uma próxima. Todo mundo sabe afinal e lá no fundo que isso é errado, que tem alguma coisa errada com os comerciais. Mais alguém aí já percebeu e sabe que eles usam constante e impunemente uma série de artifícios subliminares para induzir mais consumo? A Colgate por exemplo coloca um apitinho irritante e bem baixinho – pi…pi…pi…pi…pi… – nos comerciais de creme dental. Como eu tenho uma audição extraordinária, eu me peguei outro dia incomodado com alguma coisa, um alarme chamando minha atenção para a tv. Muito sutil. Absolutamente inaceitável.

Acabei de assistir a “Como fazer carreira em publicidade“. Um dos filmes de humour britânico mais inteligentes e perspicazes do mundo! Procure na sua locadora; você vai gostar.

ah... a consciência ali embaixo...

Mas, voltando ao assunto da psicose (roubar, matar, enganar), tudo o que a gente faz tem uma consequência. Para nós mesmos ou para os outros.

Durante a execução de todas as nossas ações a gente ouve uma vozinha, lá no fundo, dizendo se o que isso que a gente está fazendo é certo ou errado. Isso é real, pois certo e errado são conceitos únicos e universais (universal significa que inclui os ETs em outras galáxias também). Todo mundo sempre sabe, no fundo, se o que está fazendo e até pensando é certo, ou errado. A gente sabe. Mais do que sabe, sente.

Menos os psicopatas.

E isso me leva ao argumento final e conclusivo: Os políticos, os advogados, os publicitários (me desculpem se eu exclui alguma categoria) fazem coisas sabendo que essas coisas são erradas, pois elas vão, SIM, prejudicar outras pessoas, em maior ou menor grau. Ou porque as privam ou porque as aleijam ou enganam ou roubam. Ninguém pode prejudicar os outros, sem ser considerado um psicopata. Alguém aí assistiu The Corporation? Esse filme estabelece uma relação direta entre as corporações e a psicopatia. Faz um par perfeito com “Como fazer carreira…”. Só que este é uma comédia e aquele é sério.

Os políticos que roubam (acho que são todos) ou que têm salários astronômicos, além dos inúmeros e inusitados perks mais do que vergonhosos, os advogados do diabo, os publicitários (podia incluir muita gente aqui também, como a maioria dos líderes religiosos etc.) terão um pequeno e passageiro drama de consciência. Nada que uma viagem gostosa pelo mediterrâneo e uma bíblia recheada de dinheiro não resolvam…

Serão eles também psicopatas?

Afinal, qual a quantidade de sofrimento alheio inflingido ou prejuízo é tolerável?

Nenhuma. Nenhuma.

Vivemos em uma sociedade de psicopatia. Alguns percebem isso.

Enfim, uma das maneiras de protesto mais racionais, que eu pratico e recomendo, é o voto nulo. Pense que grande revolução pontual se a porcentagem de votos nulos fosse, digamos, 40%… Não ia ter que mudar alguma coisa?

Está interessado pela psicopatia da elite ancestral? Veja esse vídeo no youtube. Ele tem 3 partes de 10 minutos cada e vale muito a pena assistir.

_

no more aaaaahhh…

hello

is there anybody in there?

just nod if you can hear me

is there anyone at home?

come on, now

i hear you’re feeling down

well i can ease your pain

get you on your feet again

relax

i need some information first

just the basic facts:

can you show me where it hurts?

there is no pain, you are receding

a distant ship’s smoke on the horizon

you are only coming through in waves

your lips move but i can’t hear what you’re sayin

when i was a child i had a fever

my hands felt just like two balloons

now i got that feeling once again

i can’t explain, you would not understand

this is not how i am

i have become comfortably numb

ok

just a little pinprick [ping]

there’ll be no more – aaaaaahhhhh!

but you may feel a little sick

can you stand up?

i do believe it’s working – good

that’ll keep you going for the show

come on it’s time to go

there is no pain, you are receding

a distant ship’s smoke on the horizon

you are only coming through in waves

your lips move but i can’t hear what you’re sayin

when i was a child i caught a fleeting glimpse

out of the corner of my eye

i turned to look but it was gone

i cannot put my finger on it now

the child is grown, the dream is gone

i have become comfortably numb.


roger waters & david gilmour

Yesterday

Tenho um amigo muito engraçado. Uma vez a gente foi devolver um dvd na 2001 e eu perguntei pra ele se ele tinha rebobinado o dvd antes de trazer pra loja. O funcionário deu um risinho com o canto dos lábios. Meu amigo ficou meio abobado, todo estupefato. E agora, vai ter que pagar multa?

Lembra que antigamente as locadoras cobravam multas da gente por tudo? Atrasou? Multa. Não rebobinou a fita vhs? multa. Lembra disso? VHS, Betamax… tudo tão longínquo. O primeiro vídeo cassete que eu vi na vida em meados da década de 80 ejetava a fita por uma tampa que subia ao apertar de um botão e se projetava para a frente. Era demais! Foi nesse VCR que eu assisti os filmes da adolescência que mais me marcaram, no apartamento dos meus primos: Goonies, Indiana Jones, Gremlins, Guerra nas Estrelas… Quando a gente finalmente teve video cassete em casa, o controle remoto só funcionava se conectado ao aparelho por um cabo de 3 ou 4 metros que ficava enrolado no meio da sala.

Tudo tão antigamente. As 5 locadoras que existiam no meu bairro trocaram de dono várias vezes e depois fecharam uma a uma. A dona de uma delas era coreana e me ensinou a dizer uma porção de coisas: obrigado = Kamsahamnida 감사합니다 (pronuncia-se Câmisa mi dá). Ela ficava o tempo todo falando em coreano por telefone, produzindo aqueles barulhinhos de escarro que a gente ouve também com o CH em alemão e o X em grego. Em uma outra o atendente simpático e verborrágico me contava as aventuras dele no Japão. Ele tinha uma tatuagem da Yakuza ヤクザ e explicava porque o pai dele brigava com ele por causa da variedade linguística desrespeitosa que ele usava com os mais velhos… A única que sobrevive ainda agora vende mais itens de papelaria do que aluga filmes, se esforçando pra sobreviver, estertorando. A locação custa 2,50 por um período de 3 dias. A cada dois meses eu vou lá pegar algum filme que eu não achei na internet, de graça. Lá é bom porque eu posso entrar com o meu cachorrinho, que é muito educado e nem mija dentro da loja. Às vezes dá uma sensação de ser o último representante de uma era, porque lá nunca tem ninguém. Ninguém aluga filmes mais. A gente sente como se tivesse atravessado um portal para um mundo paralelo, isolado de toda a agitação de uma das ruas mais movimentadas do bairro.

Muitas coisas mudam e outras permanecem iguais. Esse amigo ainda é o mesmo. Um pouquinho piorado. O resto é tudo diferente. Tudo foi.

Tudo passa sobre a terra.

Think things through

Até agora eu usei a palavra “coisa (s)” 23 vezes. Engraçado isso, não? haha. Right. A gente expressa muita coisa por “coisa”. Aconteceu uma coisa… Senti uma coisa… Vi uma coisa… all Stuff.

Não é a mesma coisa que Thing.

Gone with the Wind

Assisti acho que pela quarta vez “E o Vento Levou”. Esses filmes clássicos, especialmente os de quase 4 horas, são bons de assistir de 3 em 3 anos. É um bom espaçamento de tempo pra gente sentir saudade dos personagens que marcam nossas vidas por 1) serem muito bem construídos e portanto nos entreter demais e 2) por representarem coisas que a gente gostaria de ser. Eu adoraria dançar como o Gene Kelly em “Cantando na Chuva” ou ser engraçado como o Donald O’Connor and make’em laugh.

Não digo que gostaria de passar pelas agruras que Scarlett atravessa (“jamais sentirei fome novamente!”), mas gosto de ver a reconstituição da American Civil War (1861-1865) (feita pro cinema, claro, e tendo a vida dramatissíssima da Miss O’Hara como fio da meada). Não me importaria em ser um Rhett, com todo o dinheiro na Europa, exceto pelas orelhas.

No final (se você não viu o filme, não continue lendo), depois de atravessar inúmeras peripécias, depois da guerra, durante a Reconstruction Era (essa parte é interessante também, por mostrar a construção definitiva do que hoje é os Estados Unidos, irreligiously), com toda aquela ambição, depois de se casar, ter uma filha etc., eles se separam, com a famosa frase dele “Frankly my dear, I don’t give a damn”, depois de tudo o que ela aprontou, claro (e ele também). Mas é sempre triste o fim, ainda mais o desfecho de um grande amor. Ela termina em Tara, a casa da terra vermelha, a fonte da força de Scarlett, o lugar só dela, onde ela sempre gostou muito de estar, mas agora sozinha e meio louca.

Por isso os filmes clássicos são bons. Eles representam ainda hoje o comportamento essencial do ser humano. O Pathos está lá, quer você seja mais romântico ou mais áspero. Você sempre vai se identificar com um personagem ou outro e suas ações.

Muitas coisas acontecem em nossas vidas: experiências, pessoas. Eu gostaria muito que as coisas boas fossem uma constante (e não uma pulsante), que a gente pudesse ter sempre experiências agradáveis e que as pessoas que a gente gosta pra valer pudessem estar presentes todos os dias (Esse é o meu Pathos: mais forte que o Logos e que o Ethos. Não, que o Ethos nem tanto).

Nem sempre é assim. Por isso a idéia no título do filme é ultra apropriada pra representar nossas experiências de vida: Gone with the wind, o que foi com o vento; quantas coisas boas não foram embora com o vento… Gone, em inglês, é “o que foi”, diferente de “o que foi levado”. Pense em inglês: “blown by the wind” é muito diferente de “gone with the wind”.

…e muita coisa a gente tem que deixar ir mesmo. Gone.

After all, tomorrow is another day.

Sic transit gloria mundi

Gosto de ler. Mais do que asssistir tv, o que é cômodo demais. Ler dá trabalho, você tem que se concentrar, voltar e ler alguma coisa pra ver se entendeu. Porém, ao final de um livro, a gente tem a satisfação de ter atravessado um outro país, cheio de peripécias e gente que a gente não conhecia.

Li Macbeth outro dia; em inglês. Foi difícil, dicionário do lado (um bom, que inclui palavras medievais) e ao mesmo tempo prestando atenção na riqueza do texto, coisas como saber que foi escrito em verso pentâmetro jâmbico (blank verse), pra quem não sabe, versos sem rima e com o rompimento de uma unidade sintática de uma linha pra outra. Como é uma peça, achei interessante aquela coisa do “Enter” fulano, “Exeunt” todo mundo, pontuando o movimento das dramatis personae. O próximo é King Henry the Fourth. Quero saber exatamente quem é esse Falstaff que sempre ouvi falar.

É muito gostoso atravessar essas veredas por si mesmo. Quantas vezes antes eu não ouvira sobre Macbeth e lady Macbeth. Eles não são nem de perto parecidos com o que eu imaginava. As pessoas comentam bastante sobre Shakespeare e a gente acha que sabe, mas NÃO SABE nada. É uma hstória incrível mesmo; deve ser lida, além de muitas muitas outras coisas que a gente deve ler e provavelmente nunca vai dar conta.

A palavra chave em questão é: seleção. Eu me esforço para selecionar o que eu voluntariamente ponho cérebro adentro. Nem sempre nas patuscadas com amigos eu consigo selecionar o que ouço. Mas, voluntariamente só vou atrás de informações que favoreçam o meu crescimento intelectual, espiritual e biológico – essas coisas engordam…

Dito isto, por que, me digam, por o quê deveria eu me informar sobre nosso fantástico mundo atual? Quem se interessa, além das pessoas mais facilmente manipuladas, pelos telejornais da Globo? Tu-do o que eles transmitem segue a tríade: escândalos reciclados em Brasília, catástrofes recicladas aqui e no mundo, e desinformações recicladas em geral, sempre balizadas por interesse econômico e coberturas parciais beeem tendenciosas. E a CNN e a BBC? Guerra, guerra e conflitos. Como são chatos e desinformacionais esses telejornais… São uma tentativa fútil e incoerente em transformar factóides atuais em História hoje, agora; um esforço vão de antecipar diariamente acontecimentos que supostamente entrarão para a História, com grandes e importantíssimas notícias que serão estudadas daqui a 50 anos. Algumas poucas coisas, sim, com certeza, mas 99,9%, não…

Por isso, meus bons amigos (refiro-me só àqueles que se preocupam comigo e me chamam de alienado), tô fora! Não quero saber quem é o ministro corrupto incompetente da vez. Não quero saber qual é a mamata gostosa denunciada neste mês; é só mais uma. Sim, o que eles “fazem” (mais apropriado, deixam de fazer) afeta a minha e a sua vida com certeza. Mas eles fazem muito mais coisas que a gente nunca saberá. E isso é corrente. O fato de o acadêmico FHC ter supostamente “reservado” 1bi nas ilhas Caiman para sua “aposentadoria” nos afeta? Claro. Collor roubou? E como! Mas saber isso não me fez mais feliz, nem mais rico, nem mais consciente ou participativo na nossa linda sociedade democrática. E olha que eu fui um dos caras pintadas. Na verdade eu gostaria que não fosse assim. Mas, lembre-se: o ser humano muitas vezes reproduz o papel de um vírus, “corroendo” tudo ao seu redor. Depois do Sarney (vômito) veio o Collor (úlcera), depois veio o FHC (nausea) e depois o Lula (nulo, nulo, nulo). E tudo continuará sempre igual. Não, não se engane. É assim desde chineses, gregos e romanos, que souberam muito bem criar e explorar burocracia, democracia e lobby. É e será sempre assim em qualquer país, em toda a linha da História, sempre que o homem, esse pequeno vírus devastador, continuar a habitar o planeta.

Eu não posso mudar isso (a natureza do homem e a política). Por isso, alienar-me-hei cada vez mais desse mundo que deveria informar e tornar as pessoas melhores, mas faz o contrário. Vai entender. Ferramenta estranha a TV. A que propósito serve? Sem falar nas propagandas. Pra mim é uma lavagem cerebral (alguém aí já reparou na quantidade de inserções da colgate, por exemplo, entre tantas outras empresas interessadas em “dominar o mercado”…?).

Gosto de digerir coisas boas e úteis. Por isso, continuarei lendo Shakespeare, Milton, Kafka, Baudelaire, Machado, Bandeira, Mário et al.

Entretanto, sendo possível mudar alguma coisa, conte comigo para uma manifestação, jogar ovo em ministro ou para quebrar as janelas da casa do Maluf. Isso seria divertido. E útil. Muito mais do que assistir TV. Mas menos que ler um bom livro.

Habitat

Todos os bichos têm* um lugar gostoso e natural pra viver. Os leões vivem em savanas, lugar grande pra correr e caçar comida. Os pinguins vivem naqueles lugares frios, com montanhas magníficas e perto do mar congelante. As aves no céu e os peixes na água. Tem muito bicho que gosta de viver embaixo da terra também. Todos eles têm em comum o prazer de viver no lugar em que gostam, comendo o que gostam e fazendo o que gostam.

Esse é o grande problema dos homens. Um bicho capaz de destruir o lugar em que vive tanto quanto um vírus, uma célula cancerosa. O homem se estabelece em um lugar e, em uma década ou duas, destrói tudo, corroendo a paisagem com um cancro cimentado. E não é feliz, como supõe-se os vírus. Não vive como gosta, não come o que gosta e não faz o que gosta. E não adianta vir pra cima de mim com esse neomarketing de auto-ajuda da pós-industrialização: se tem horário pra chegar, pressão por metas em escala e convivência forçadamente simpática com seres desinteressantes com o único objetivo de sobreviver (leia-se viver onde não gosta, comer o que não gosta e comprar), tudo é uma merda.

Por isso o homem é um bicho diferente e infeliz, no núcleo duro. A gente (sou um ser humano também, por isso me incluo) vive a teoria da sobrevivência do Darwin do jeito mais burro: o mais forte nem sempre é o mais apto e digerir a inteligência alheia deve dar muitos gases mesmo.

Fecho com Rousseau, que no século XVIII anteviu tudo isso que eu sinto e você deve sentir também:

“O homem que fala em “Estado da Natureza” fala sobre um estado que não existe mais, que pode nunca ter existido, e que provavelmente nunca existirá. É um estado sobre o qual devemos ter, mesmo assim, uma idéia adequada para julgar corretamente nossa condição atual.” (Prefácio ao Discurso sobre a Desigualdade, 1754)

Pra finalizar:

“A maioria de nossos males é obra nossa e os evitaríamos, quase todos, conservando uma forma simples de viver, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza.”

Eu: é doente perseguir uma carreira, se esforçar pra construir algo que a maioria das pessoas nem entende ou entende e se vende ou compra. O ser humano se esforça pra ser um leão que decide o que os outros leões devem fazerm pelo “bem mútuo” (na verdade o ser humano não pensa em bem mútuo, desculpa), traduzido em símbolos de status – dinheiro ou poder. Muitos pinguins ricos ou poderosos querem determinar como e onde os outros pinguins devem investir seus talentos, para construir uma carreira bem sucedida e colaborar com a bem estar comum (mais uma vez, desculpa, o ser humano não pensa nisso, muito MENOS nas nossas modernas corporações).

Isso tudo é muito triste. Mas acho que eu é que sou um misfit. Vou virar um eremita nas montanhas…

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* as novas regras do português são um saco. Os países lusófonos ainda escrevem e continuarão a escrever de jeitos distintos. Querer unificar a grafia de culturas tão diferentes é uma das coisas mais idiotas que essa gente “acadêmica” poderia ter inventado. A língua de um país se modifica naturalmente, com o passar dos anos. Em cada país, de um jeito diferente. E nunca porque a autoridade determinou. Eles não percebem isso? Eu vou continuar a escrever do meu jeito certo; sem o trema, claro.

Recycled Wisdom

Eu não tenho paciência com pessoas inferiores a mim. Não me preocupo com isso. Não que eu seja superior. Eu tento. Mas como é difícil lidar com pessoas que fazem questão de não saber. Tão ruim quanto isso é lidar com pessoas que acham que sabem. Muita gente deve ter essa impressão de mim. E eu sei muito pouco mesmo.

O que fazer com o conhecimento que dá a impressão do saber? Transformar a informação em conhecimento é confuso. Pior ainda se envolve ação. Me preocupo hoje em dia mais com a sabedoria, aquele processo que ocorre interiormente, quando a gente está quietinho conversando com a gente mesmo, depois de ler coisas interessantes, por exemplo. Como a gente vai compartilhar uma experiência tão pessoal e subjetiva? Poucos entendem. Sequer interessa. Oscar Wilde disse que toda arte é inútil. Acho que a gente deveria estender esse conceito à sabedoria.

É tudo um pouco complicado. As pessoas julgam umas às outras pelo que têm. E é um saco tentar participar de um grupo quando seus membros constituintes se julgam tão importantes por possuirem coisas ou ocupações pomposas. É uma das experiências sociais mais vazias do mundo. Raramente essas pessoas acrescentam conhecimento. Não que nesses momentos seja impossível rir. E ri-se muito, todos felizes demais. Mas sem legar nenhum fruto espiritual. A gente sai desses encontros com uma sensação de vazio, sem acrescentar nada, NA-DA. Antigamente conhecimento era transmitido por interações sociais. Isso é cada vez mais raro, ou só para poucos, o que é um dos conceitos mais imbecis do mundo moderno.

Obrigado aos meus bons amigos que me fazem querer saber mais.

Shakespeare, Macbeth. Act 5, Scene 5, 19-28

“Amanhã, e amanhã, e amanhã arrasta-se com passos insignificantes, dia após dia, até a última sílaba escrita pelo tempo. E todo nosso passado vem iluminando para os tolos o caminho para a morte poeirenta. Fora, fora lâmpada fugaz! A vida não passa de uma sombra vacilante – um mísero ator que se vangloria e se lamenta enquanto está no palco e depois não é mais escutado: é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem significado algum.”

Sullen mood, Dead bull

Como em turvas águas de enchente,
Me sinto a meio submergido
Entre destroços do presente
Divido, subdividido,
Onde rola, enorme, o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Árvore da paisagem calma,
Convosco – altas tão marginais!
Fica a alma, a atônita alma,
Atônita para jamais.
Que o corpo, esse vai com o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Boi morto, boi desconhecido,
Boi espantosamente, boi
Morto, sem forma ou sentido
Ou significado. O que foi
Ninguém sabe. Agora é boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Manuel Bandeira

Atop the Volcano

Ontem estava assistindo uma entrevista com a Rose Marie Muraro, pra quem não sabe, uma grande bruxa, ícone do movimento feminista no Brasil e alhures. Pois apesar disso e por isso, ela escreveu a deliciosa e feliz introdução ao Malleus Maleficarum, O Martelo das Bruxas, documento usado pelos loucos da “Santa” Inquisição para sair matando a mulherada por 400 anos. Quando Deus era feminino e o poder de decisão das tribos ancestrais estava nas mãos das mulheres, as comunidades eram pacíficas. O homem roubou a caciquia e trouxe guerra, competição e desentendimento. A tal ponto que eu concordo com ela, quando ela disse mais ou menos isso: “estou triste, viver no mundo está cada vez pior; a gente mora em cima de um vulcão prestes a explodir”.

E não é?