God exists

Algumas coisas fazem a gente ter convicção de que Deus existe e que Seus anjos protegem a gente e as pessoas que a gente gosta.

Hoje minha mãe foi abordada por dois rapazes em uma moto, que se aproximaram na contramão e exigiram sua bolsa. Nessas horas nossa reação é sempre uma variável; ninguém nunca sabe como vai reagir, apesar de toda a ladainha “não reaja, entregue tudo e se eles aparentarem estar drogados, diga de antemão o que vai fazer pra não correr o risco de levar um tiro porque eles acharam que você ia tirar um revólver da bolsa”.

Sabe qual foi a reação da minha mãe? Ela começou a gritar feito uma louca e entrou correndo em uma avenida de quatro faixas hiper movimentada. Todo mundo brecou e ela entrou no carro de um homem que a levou até uma delegacia. Não levou tiro, não foi atropelada, nem teve um infarto…

Essas coisas fortelecem a minha crença em um ser superior protetor (Deus, para a maioria) e me fazem agradecer profundamente o anjo da guarda dela, que é supimpa.

*Obrigado*

Não custa lembrar: não saque bastante dinheiro no seu banco de confiança a saia andando pela rua. Sempre tem alguma quadrilha de olho…

I really hate it

Propagandas pop-up na internet. Odeio. Tanto quanto um alarme de carro disparado no meio da madrugada. Antes dava pra bloquear. Hoje em dia não dá mais.

Pô, tem tanto lugar elegante pra se colocar anúncios…

Os sites da Folha/UOL, Veja e quase todos os outros canais tapuias de informação estão usando agora um tipo de pop-up – que jão nem é mais pop-up porque infechável – que acompanha você enquanto você desce a tela lendo um texto. É o equivalente a andar de carro e ter alguém pulando do seu lado na janela e segurando um cartaz pisca-pisca com propaganda idiota durante todo o caminho.

Detestável. Hoje em dia quando penso “deixa eu ver algumas notícias no site Veja/Folha/UOL”… eu já lembro de antemão das propagandas irritantes e nem acesso o site mais.

Era isso o que eles queriam? Repelir acessos?

Comigo funcionou. Mais do que nunca eu acesso notícias sem edição, muito mais completas em sites que NÃO ENCHEM O MEU SACO: The New York Times, The Economist, Wired… Lá tem propaganda, claro, mas SEM INTERFERIR, piscar, pular, me seguir…

But in English.

The Brain & Evil

Acabei de ter uma epifânia, um insight, assistindo um desses documentários maravilhosos sobre o cérebro na tv (ok, eu normalmente odeio o que passa na tv, mas dessa vez foi legal). O cérebro é incrível por suas inúmeras subdivisões (amígdala, lobo temporal, hipotálamo etc.). O cérebro dos psicopatas, por exemplo, se caracteriza por não conseguir entender o sofrimento dos outros, porque o centro de identificação com o outro é muito menor do que o de uma pessoa “normal”. Não processa. Eu sinto vontade de estrangular uma puta e, por mais que ela sofra durante o lento, doloroso, gradual e quiçá sangrento processo, não me identifico com ela, com sua dor, com o seu sofrimento psíquico. Por isso a mato de um jeito cruel e imoral (para a maioria das pessoas). Pode ser anti-ético ou não, dependendo do grupo sendo observado. Eu quero, e isso basta. Incrível isso não?, não fossem as constatações todas da ciência.

Se uma pessoa faz mal a outra, sabendo que a prejudicou, ela pode ser punida (dependendo do advogado). Caso ela não perceba que prejudicou a outrem, será submetida a um longo e subjetivo processo de avaliação.

Afinal, o que é o Mal? O que exatamente é aceito e tolerado por um grupo?

Roubar é mal? Enganar? Matar? Tirar proveito da estrutura pré-estabelecida, da Máquina, do que “acontece normalmente” de uma forma ou de outra em benefício próprio é errado? Prejudica os outros? Mas… prejudica de um jeito pior, mais do que me beneficia?

É mal, sim. Achar que só porque os outros fazem/fizeram tal coisa permite que você dê continuidade a uma determinada ação é errado sim! Porque alguém rouba tradicionalmente aqui, não quer dizer que é certo. Porque em um dado grupo social matam-se as putas, continuo achando isso errado. Pelo menos no meu sistema de crenças, do meu código moral e ético. Vai ver minha amígdala é um pouco maior. No meu íntimo, lá dentro da alma, eu sempre sei se o que fiz ou estou prestes a fazer é certo ou não.

grupo de neurônios, no sistema límbico: stress, raiva, reação, agressão, sexo

Matar putas (tadinhas delas… servir de suporte pra minha argumentação…), roubar, enganar… Tudo isso é muito ruim, muito errado. Especialmente pensando na suposta evolução do ser humano. Como tornar a civilização melhor quando seus membros fazem coisas erradas sabendo que são erradas? Eu me esforço pra desenvolver parcerias positivas com todo mundo ao meu redor, desde os meus amigos até os garis que varrem as ruas do meu bairro (eu sei o nome deles: Gaspar e José. O Gaspar é uma ótima pessoa, adora conversar, mas infelizmente vai trabalhar numa região mais próxima da casa dele. Não é estranho que os garis tenham que trabalhar em bairros que não são o lugar onde eles moram? Eu acho muito importante a gente cuidar das redondezas do lugar onde a gente mora; fico bravo quando escuto o barulho de uma latinha de cerveja jogada na rua. Jogar lixo nas ruas é uma coisa que sempre me deixa inconformado). Quando eu me desvio daquela minha conduta esperada, eu sou o meu próprio e mais severo julgador (eu ia dizer juíz, mas eles em geral tomam decisões estranhas também, contrárias ao bom senso…).

A publicidade engana e ludibria o tempo todo. Convence as pessoas a consumir um determinado produto com base em falsas premissas, ou em premissas vazias. Força as pessoas a comprar coisas que elas não querem, a priori. Isso sustenta a nossa sociedade e é muito muito errado. O tal infamous Consumo. Essa discussão vai longe e fica pr’uma próxima. Todo mundo sabe afinal e lá no fundo que isso é errado, que tem alguma coisa errada com os comerciais. Mais alguém aí já percebeu e sabe que eles usam constante e impunemente uma série de artifícios subliminares para induzir mais consumo? A Colgate por exemplo coloca um apitinho irritante e bem baixinho – pi…pi…pi…pi…pi… – nos comerciais de creme dental. Como eu tenho uma audição extraordinária, eu me peguei outro dia incomodado com alguma coisa, um alarme chamando minha atenção para a tv. Muito sutil. Absolutamente inaceitável.

Acabei de assistir a “Como fazer carreira em publicidade“. Um dos filmes de humour britânico mais inteligentes e perspicazes do mundo! Procure na sua locadora; você vai gostar.

ah... a consciência ali embaixo...

Mas, voltando ao assunto da psicose (roubar, matar, enganar), tudo o que a gente faz tem uma consequência. Para nós mesmos ou para os outros.

Durante a execução de todas as nossas ações a gente ouve uma vozinha, lá no fundo, dizendo se o que isso que a gente está fazendo é certo ou errado. Isso é real, pois certo e errado são conceitos únicos e universais (universal significa que inclui os ETs em outras galáxias também). Todo mundo sempre sabe, no fundo, se o que está fazendo e até pensando é certo, ou errado. A gente sabe. Mais do que sabe, sente.

Menos os psicopatas.

E isso me leva ao argumento final e conclusivo: Os políticos, os advogados, os publicitários (me desculpem se eu exclui alguma categoria) fazem coisas sabendo que essas coisas são erradas, pois elas vão, SIM, prejudicar outras pessoas, em maior ou menor grau. Ou porque as privam ou porque as aleijam ou enganam ou roubam. Ninguém pode prejudicar os outros, sem ser considerado um psicopata. Alguém aí assistiu The Corporation? Esse filme estabelece uma relação direta entre as corporações e a psicopatia. Faz um par perfeito com “Como fazer carreira…”. Só que este é uma comédia e aquele é sério.

Os políticos que roubam (acho que são todos) ou que têm salários astronômicos, além dos inúmeros e inusitados perks mais do que vergonhosos, os advogados do diabo, os publicitários (podia incluir muita gente aqui também, como a maioria dos líderes religiosos etc.) terão um pequeno e passageiro drama de consciência. Nada que uma viagem gostosa pelo mediterrâneo e uma bíblia recheada de dinheiro não resolvam…

Serão eles também psicopatas?

Afinal, qual a quantidade de sofrimento alheio inflingido ou prejuízo é tolerável?

Nenhuma. Nenhuma.

Vivemos em uma sociedade de psicopatia. Alguns percebem isso.

Enfim, uma das maneiras de protesto mais racionais, que eu pratico e recomendo, é o voto nulo. Pense que grande revolução pontual se a porcentagem de votos nulos fosse, digamos, 40%… Não ia ter que mudar alguma coisa?

Está interessado pela psicopatia da elite ancestral? Veja esse vídeo no youtube. Ele tem 3 partes de 10 minutos cada e vale muito a pena assistir.

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Sors de l’enfance, ami, réveille-toi!

Adoro citações en français. Elas são muito chiques e parece que, porque em francês, são muito mais verdadeiras. Além do que, faz parecer a quem ler o que eu escrevo, que eu tenho aquela casquinha intelectual de que o Mário de Andrade falava.

A máxima-título deste post é do Jean-Jacques Rousseau e serviu de epígrafe aO Mundo, do Schopenhauer: “Sai de tua infância, amigo, acorda!” (uma pancada na cabeça) (Já tinha falado do Rousseau em outro post – saber viver como a natureza exige). Gosto do Schopenhauer porque ele fala sobre como viver aceitando todas as limitações da existência, com o respectivo impacto do desejo e suas frustrações no nosso bem-estar. Überracional. (Como eu sei que nem todo-mundo vai ter saco/tempo pra ler O Mundo, eu vou abordar alguns aspectos aqui – no blog, não no post -, eventual e paulatinamente.)

Freud foi largamente influenciado por Schopenhauer, por sua vez iluminado por Descartes, Kant e pela filosofia milenar do Hinduísmo e sua Lei Eterna (essa epifânia, dividida em Vedas = conhecimento, e Upanixade = meditação e filosofia, também fica pr’uma próxima). Freud apreendeu o conceito de vontade e representação e desenvolveu a teoria do desejo, da repressão, id, ego, super-ego. E claro que ele leu muita coisa en plus de Schopenhauer.

Outra citação en français que eu gosto bastante é “J’ai plus de souvenirs que si j’avais mille ans“, do Baudelaire (Spleen), que significa “Tenho mais lembranças do que se tivesse mil anos”. Demais, não? Gosto de acreditar que, se reencarnações houvesse, eu já teria vindo e ido muitas muitas muitas vezes. Talvez por isso goste tanto desse poema do Baudelaire. Perfeito para um pirata cansado.

Já deu pra perceber que eu gosto muito da literatura do século 19. Adoro esse pessoal que fundou ou veio depois do Iluminismo. Não vou nem chegar perto da questão Renaissance-Siècle des Lumières e suas subsequentes subdivisões porque isso vai longe e inclui muita muita gente (beaucoup de gens et d’artistes studieux). Mas é gostoso demais ler gente que despertou do obscurantismo da idade média e descobriu a racionalidade dos fenômenos, indo muito além da mera observação. Eles conseguiram pensar em presque tout.

Hoje acordo com uma porção de coisas pra fazer (não muitas, é verdade, ao contrário do que todo-mundo diz. Todo-mundo está sempre muito ocupado em mentir no currículo…). No meio de tudo isso, tenho as minhas expectativas para o dia e uma panóplia de quimeras. Quase todas se frustram e eu tenho que lidar com isso, material e emocionalmente. Nos dias de sorteio da megasena eu acordo e desejo: ai meu Deus, hoje vou poder ajudar minha família e meus amigos, vou comprar meu apartamento e um audi A3, e vou dar um giro pelo mundo… Quase todo dia seguinte eu tenho que lidar – de novo – com a frustração da pobreza, com o esforço inútil e vão de vender minha inteligência e meu trabalho para comprar migalhas de desejos. Sorry friends; better luck next time.

Lembrei de outra citação que eu gosto, dessa vez do Manuel Bandeira: “A vida é uma agitação feroz e sem finalidade (…)”.

Das relações entre elite (essa pouca gente que concentra quase toda a riqueza do mundo há séculos e chega até a casar incestuosamente para não ter que dividir), e mão-de-obra (essa toda outra gente que produz, sonha, e sofre com as limitações financeiras, e pode eventualmente incluir a bourgeoisie), e das relações entre arte/intelectualidade e trabalho, gosto dessa citação, en française, claro, “Je suis un homme spiritualiste etouffé par une société materialiste, où le calculateur avare exploite sans pitié l’intelligence et le travail” (sou um homem espiritualista cansado de uma sociedade materialista, onde o agiota avaro explora sem piedade a inteligência e o trabalho), Alfred de Vigny, da turma do Charles.

(Por que os banqueiros arrancam todo o nosso dinheiro das maneiras mais criativas e compulsórias e depois aparecem na mídia fazendo caridade?? É como a Shell ou a Petrobrax (lembra disso?) fazendo propagandas como se se preocupassem com o meio ambiente…)

Voltando: gosto dessa turma toda porque eles me ajudam a obter um certo equilíbrio psicológico para as minhas frustrações, equilíbrio que não chega a resolver meus problemas, minhas dúvidas, mas me dá um certo conforto, uma certa sabedoria que serve apenas para me consolar de forma racional nos momentos mais agudos de tristeza com o mundo pelo o que o mundo é, ponto. O Harold Bloom tem uma definição muito legal para a sabedoria: aquela vozinha que dialoga com você quando você está quietinho, sozinho, refletindo sobre o conhecimento que você adquiriu. Não pode ser compartilhada; a sabedoria é uma coisa só sua. Gosto disso. Faz muito sentido. O Harold Bloom é genial e esse livro deve ser lido por todo mundo interessado em aprender sobre a busca pela sabedoria de todos os povos através da História e em se sentir melhor consigo mesmo.

Harold Bloom, Vigny, Freud, Schopenhauer… Eles me ajudam diariamente a conviver com meus desejos, minhas vontades, o que eles representam individualmente para mim, e a aceitação das frustrações e das limitações da existência, que são muitas muitas (ils sont très nombreux). Além de apreciar profundamente, óbvio, toda a beleza artística da œuvre deles. Gostaria de compartilhar esse sossego espiritual, mas cada um tem que achar o seu. Muita gente tenta isso através das religiões, mas elas, para mim, só fazem piorar tudo. Contudo, se você está interessado no ramo das religiões e quer investir seu tempo e seu talento nisso, leia a Entrevista com o profissional. Pra mim, a mais perspicaz, verossímil e franca entrevista da história da humanidade!

A leitura do Schoppy tá só no começo. Provavelmente ainda vou voltar a esse assunto outras vezes. Conclusão: saiba que perceber de maneira realista os seus impulsos primordiais dos desejos profundos, o constante querer querer não vai cessar nunca. Uma condição triste dos seres capazes de abstrair. Antes que você pergunte, só o homem consegue fazer isso, dentre todos os bichos existentes (os ETs supostamente não têm esses conflitos…). A convivência com esse almejar incessante (seja lá o que você queira) dura a vida toda, não tem cura e paradoxalmente é parte inexorável do que você e eu queremos ser. Lide com isso (o mundo como representação). Pessimisticamente fato. Acorde da infância. Você vai sempre querer querer. Mas tem que saber disso.

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PS: este post inaugura o novo visual do meu blog e é o primeiro também com o título em francês (quem é espertinho já percebeu que os títulos são todos em inglês) (peraí que eu babei no teclado…). A imagem no header é uma concepção artística que eu achei no site da National Geographic sobre o fim do universo, quando ele voltar ao seu ponto inicial, pré Big Bang, antes da infância. Por mim, podia ser na semana que vem, cheio de som e de fúria…

…mesmo no vácuo… oommm…

no more aaaaahhh…

hello

is there anybody in there?

just nod if you can hear me

is there anyone at home?

come on, now

i hear you’re feeling down

well i can ease your pain

get you on your feet again

relax

i need some information first

just the basic facts:

can you show me where it hurts?

there is no pain, you are receding

a distant ship’s smoke on the horizon

you are only coming through in waves

your lips move but i can’t hear what you’re sayin

when i was a child i had a fever

my hands felt just like two balloons

now i got that feeling once again

i can’t explain, you would not understand

this is not how i am

i have become comfortably numb

ok

just a little pinprick [ping]

there’ll be no more – aaaaaahhhhh!

but you may feel a little sick

can you stand up?

i do believe it’s working – good

that’ll keep you going for the show

come on it’s time to go

there is no pain, you are receding

a distant ship’s smoke on the horizon

you are only coming through in waves

your lips move but i can’t hear what you’re sayin

when i was a child i caught a fleeting glimpse

out of the corner of my eye

i turned to look but it was gone

i cannot put my finger on it now

the child is grown, the dream is gone

i have become comfortably numb.


roger waters & david gilmour

Yesterday

Tenho um amigo muito engraçado. Uma vez a gente foi devolver um dvd na 2001 e eu perguntei pra ele se ele tinha rebobinado o dvd antes de trazer pra loja. O funcionário deu um risinho com o canto dos lábios. Meu amigo ficou meio abobado, todo estupefato. E agora, vai ter que pagar multa?

Lembra que antigamente as locadoras cobravam multas da gente por tudo? Atrasou? Multa. Não rebobinou a fita vhs? multa. Lembra disso? VHS, Betamax… tudo tão longínquo. O primeiro vídeo cassete que eu vi na vida em meados da década de 80 ejetava a fita por uma tampa que subia ao apertar de um botão e se projetava para a frente. Era demais! Foi nesse VCR que eu assisti os filmes da adolescência que mais me marcaram, no apartamento dos meus primos: Goonies, Indiana Jones, Gremlins, Guerra nas Estrelas… Quando a gente finalmente teve video cassete em casa, o controle remoto só funcionava se conectado ao aparelho por um cabo de 3 ou 4 metros que ficava enrolado no meio da sala.

Tudo tão antigamente. As 5 locadoras que existiam no meu bairro trocaram de dono várias vezes e depois fecharam uma a uma. A dona de uma delas era coreana e me ensinou a dizer uma porção de coisas: obrigado = Kamsahamnida 감사합니다 (pronuncia-se Câmisa mi dá). Ela ficava o tempo todo falando em coreano por telefone, produzindo aqueles barulhinhos de escarro que a gente ouve também com o CH em alemão e o X em grego. Em uma outra o atendente simpático e verborrágico me contava as aventuras dele no Japão. Ele tinha uma tatuagem da Yakuza ヤクザ e explicava porque o pai dele brigava com ele por causa da variedade linguística desrespeitosa que ele usava com os mais velhos… A única que sobrevive ainda agora vende mais itens de papelaria do que aluga filmes, se esforçando pra sobreviver, estertorando. A locação custa 2,50 por um período de 3 dias. A cada dois meses eu vou lá pegar algum filme que eu não achei na internet, de graça. Lá é bom porque eu posso entrar com o meu cachorrinho, que é muito educado e nem mija dentro da loja. Às vezes dá uma sensação de ser o último representante de uma era, porque lá nunca tem ninguém. Ninguém aluga filmes mais. A gente sente como se tivesse atravessado um portal para um mundo paralelo, isolado de toda a agitação de uma das ruas mais movimentadas do bairro.

Muitas coisas mudam e outras permanecem iguais. Esse amigo ainda é o mesmo. Um pouquinho piorado. O resto é tudo diferente. Tudo foi.

Tudo passa sobre a terra.

Think things through

Até agora eu usei a palavra “coisa (s)” 23 vezes. Engraçado isso, não? haha. Right. A gente expressa muita coisa por “coisa”. Aconteceu uma coisa… Senti uma coisa… Vi uma coisa… all Stuff.

Não é a mesma coisa que Thing.

Gone with the Wind

Assisti acho que pela quarta vez “E o Vento Levou”. Esses filmes clássicos, especialmente os de quase 4 horas, são bons de assistir de 3 em 3 anos. É um bom espaçamento de tempo pra gente sentir saudade dos personagens que marcam nossas vidas por 1) serem muito bem construídos e portanto nos entreter demais e 2) por representarem coisas que a gente gostaria de ser. Eu adoraria dançar como o Gene Kelly em “Cantando na Chuva” ou ser engraçado como o Donald O’Connor and make’em laugh.

Não digo que gostaria de passar pelas agruras que Scarlett atravessa (“jamais sentirei fome novamente!”), mas gosto de ver a reconstituição da American Civil War (1861-1865) (feita pro cinema, claro, e tendo a vida dramatissíssima da Miss O’Hara como fio da meada). Não me importaria em ser um Rhett, com todo o dinheiro na Europa, exceto pelas orelhas.

No final (se você não viu o filme, não continue lendo), depois de atravessar inúmeras peripécias, depois da guerra, durante a Reconstruction Era (essa parte é interessante também, por mostrar a construção definitiva do que hoje é os Estados Unidos, irreligiously), com toda aquela ambição, depois de se casar, ter uma filha etc., eles se separam, com a famosa frase dele “Frankly my dear, I don’t give a damn”, depois de tudo o que ela aprontou, claro (e ele também). Mas é sempre triste o fim, ainda mais o desfecho de um grande amor. Ela termina em Tara, a casa da terra vermelha, a fonte da força de Scarlett, o lugar só dela, onde ela sempre gostou muito de estar, mas agora sozinha e meio louca.

Por isso os filmes clássicos são bons. Eles representam ainda hoje o comportamento essencial do ser humano. O Pathos está lá, quer você seja mais romântico ou mais áspero. Você sempre vai se identificar com um personagem ou outro e suas ações.

Muitas coisas acontecem em nossas vidas: experiências, pessoas. Eu gostaria muito que as coisas boas fossem uma constante (e não uma pulsante), que a gente pudesse ter sempre experiências agradáveis e que as pessoas que a gente gosta pra valer pudessem estar presentes todos os dias (Esse é o meu Pathos: mais forte que o Logos e que o Ethos. Não, que o Ethos nem tanto).

Nem sempre é assim. Por isso a idéia no título do filme é ultra apropriada pra representar nossas experiências de vida: Gone with the wind, o que foi com o vento; quantas coisas boas não foram embora com o vento… Gone, em inglês, é “o que foi”, diferente de “o que foi levado”. Pense em inglês: “blown by the wind” é muito diferente de “gone with the wind”.

…e muita coisa a gente tem que deixar ir mesmo. Gone.

After all, tomorrow is another day.

Hyde, Central, Bois de Boulogne?

Ibirapuera. Um dos parques mais gostosos do mundo e definitivamente o mais agradável de São Paulo. Muita gente conhece, mas pouca gente co-nhe-ce. Percebe a diferença? Como todo parque gigante, ele é cheio de lugares “secretos”, cantinhos que a gente descobre com o passar dos anos, frequentando bastante. Cada um tem seu preferido e muita gente nem conta qual é o seu pra não estar ocupado quando chega lá.

Depois de uma vida de frequentador eu achei o cantinho mais legal de lá. Nem adianta perguntar onde é porque eu não conto. Dou só uma dica: fica pertinho do lago… E sabe qual é o melhor horário pra ir lá? De noite. À noite tem mais cinco pessoas lá, além de você e os amigos que foram junto. E muitos seguranças, o que dá uma putz sensação de proteção. Dá a impressão de que se pode deixar o notebook no banco enquanto se vai ao banheiro (please, não faça isso, é só força de expressão).

As noites da cidade são muito mais silenciosas e ali, no meio de uma floresta planejada pelo Burle Marx, ouvindo o farfalhar das árvores ao vento e das asas de um monte de pássaros que volta e meia fazem pequenas revoadas sobre a gente, olhando a superfície absolutamente estática do lago, com uma névoa bem rente, é uma das experiências mais mágicas da vida.

Mas o mais gostoso foi ter estado lá com dois bons amigos. Valeu D. e D. (ih, quem que eu citei primeiro hein?)

Sic transit gloria mundi

Gosto de ler. Mais do que asssistir tv, o que é cômodo demais. Ler dá trabalho, você tem que se concentrar, voltar e ler alguma coisa pra ver se entendeu. Porém, ao final de um livro, a gente tem a satisfação de ter atravessado um outro país, cheio de peripécias e gente que a gente não conhecia.

Li Macbeth outro dia; em inglês. Foi difícil, dicionário do lado (um bom, que inclui palavras medievais) e ao mesmo tempo prestando atenção na riqueza do texto, coisas como saber que foi escrito em verso pentâmetro jâmbico (blank verse), pra quem não sabe, versos sem rima e com o rompimento de uma unidade sintática de uma linha pra outra. Como é uma peça, achei interessante aquela coisa do “Enter” fulano, “Exeunt” todo mundo, pontuando o movimento das dramatis personae. O próximo é King Henry the Fourth. Quero saber exatamente quem é esse Falstaff que sempre ouvi falar.

É muito gostoso atravessar essas veredas por si mesmo. Quantas vezes antes eu não ouvira sobre Macbeth e lady Macbeth. Eles não são nem de perto parecidos com o que eu imaginava. As pessoas comentam bastante sobre Shakespeare e a gente acha que sabe, mas NÃO SABE nada. É uma hstória incrível mesmo; deve ser lida, além de muitas muitas outras coisas que a gente deve ler e provavelmente nunca vai dar conta.

A palavra chave em questão é: seleção. Eu me esforço para selecionar o que eu voluntariamente ponho cérebro adentro. Nem sempre nas patuscadas com amigos eu consigo selecionar o que ouço. Mas, voluntariamente só vou atrás de informações que favoreçam o meu crescimento intelectual, espiritual e biológico – essas coisas engordam…

Dito isto, por que, me digam, por o quê deveria eu me informar sobre nosso fantástico mundo atual? Quem se interessa, além das pessoas mais facilmente manipuladas, pelos telejornais da Globo? Tu-do o que eles transmitem segue a tríade: escândalos reciclados em Brasília, catástrofes recicladas aqui e no mundo, e desinformações recicladas em geral, sempre balizadas por interesse econômico e coberturas parciais beeem tendenciosas. E a CNN e a BBC? Guerra, guerra e conflitos. Como são chatos e desinformacionais esses telejornais… São uma tentativa fútil e incoerente em transformar factóides atuais em História hoje, agora; um esforço vão de antecipar diariamente acontecimentos que supostamente entrarão para a História, com grandes e importantíssimas notícias que serão estudadas daqui a 50 anos. Algumas poucas coisas, sim, com certeza, mas 99,9%, não…

Por isso, meus bons amigos (refiro-me só àqueles que se preocupam comigo e me chamam de alienado), tô fora! Não quero saber quem é o ministro corrupto incompetente da vez. Não quero saber qual é a mamata gostosa denunciada neste mês; é só mais uma. Sim, o que eles “fazem” (mais apropriado, deixam de fazer) afeta a minha e a sua vida com certeza. Mas eles fazem muito mais coisas que a gente nunca saberá. E isso é corrente. O fato de o acadêmico FHC ter supostamente “reservado” 1bi nas ilhas Caiman para sua “aposentadoria” nos afeta? Claro. Collor roubou? E como! Mas saber isso não me fez mais feliz, nem mais rico, nem mais consciente ou participativo na nossa linda sociedade democrática. E olha que eu fui um dos caras pintadas. Na verdade eu gostaria que não fosse assim. Mas, lembre-se: o ser humano muitas vezes reproduz o papel de um vírus, “corroendo” tudo ao seu redor. Depois do Sarney (vômito) veio o Collor (úlcera), depois veio o FHC (nausea) e depois o Lula (nulo, nulo, nulo). E tudo continuará sempre igual. Não, não se engane. É assim desde chineses, gregos e romanos, que souberam muito bem criar e explorar burocracia, democracia e lobby. É e será sempre assim em qualquer país, em toda a linha da História, sempre que o homem, esse pequeno vírus devastador, continuar a habitar o planeta.

Eu não posso mudar isso (a natureza do homem e a política). Por isso, alienar-me-hei cada vez mais desse mundo que deveria informar e tornar as pessoas melhores, mas faz o contrário. Vai entender. Ferramenta estranha a TV. A que propósito serve? Sem falar nas propagandas. Pra mim é uma lavagem cerebral (alguém aí já reparou na quantidade de inserções da colgate, por exemplo, entre tantas outras empresas interessadas em “dominar o mercado”…?).

Gosto de digerir coisas boas e úteis. Por isso, continuarei lendo Shakespeare, Milton, Kafka, Baudelaire, Machado, Bandeira, Mário et al.

Entretanto, sendo possível mudar alguma coisa, conte comigo para uma manifestação, jogar ovo em ministro ou para quebrar as janelas da casa do Maluf. Isso seria divertido. E útil. Muito mais do que assistir TV. Mas menos que ler um bom livro.

Habitat

Todos os bichos têm* um lugar gostoso e natural pra viver. Os leões vivem em savanas, lugar grande pra correr e caçar comida. Os pinguins vivem naqueles lugares frios, com montanhas magníficas e perto do mar congelante. As aves no céu e os peixes na água. Tem muito bicho que gosta de viver embaixo da terra também. Todos eles têm em comum o prazer de viver no lugar em que gostam, comendo o que gostam e fazendo o que gostam.

Esse é o grande problema dos homens. Um bicho capaz de destruir o lugar em que vive tanto quanto um vírus, uma célula cancerosa. O homem se estabelece em um lugar e, em uma década ou duas, destrói tudo, corroendo a paisagem com um cancro cimentado. E não é feliz, como supõe-se os vírus. Não vive como gosta, não come o que gosta e não faz o que gosta. E não adianta vir pra cima de mim com esse neomarketing de auto-ajuda da pós-industrialização: se tem horário pra chegar, pressão por metas em escala e convivência forçadamente simpática com seres desinteressantes com o único objetivo de sobreviver (leia-se viver onde não gosta, comer o que não gosta e comprar), tudo é uma merda.

Por isso o homem é um bicho diferente e infeliz, no núcleo duro. A gente (sou um ser humano também, por isso me incluo) vive a teoria da sobrevivência do Darwin do jeito mais burro: o mais forte nem sempre é o mais apto e digerir a inteligência alheia deve dar muitos gases mesmo.

Fecho com Rousseau, que no século XVIII anteviu tudo isso que eu sinto e você deve sentir também:

“O homem que fala em “Estado da Natureza” fala sobre um estado que não existe mais, que pode nunca ter existido, e que provavelmente nunca existirá. É um estado sobre o qual devemos ter, mesmo assim, uma idéia adequada para julgar corretamente nossa condição atual.” (Prefácio ao Discurso sobre a Desigualdade, 1754)

Pra finalizar:

“A maioria de nossos males é obra nossa e os evitaríamos, quase todos, conservando uma forma simples de viver, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza.”

Eu: é doente perseguir uma carreira, se esforçar pra construir algo que a maioria das pessoas nem entende ou entende e se vende ou compra. O ser humano se esforça pra ser um leão que decide o que os outros leões devem fazerm pelo “bem mútuo” (na verdade o ser humano não pensa em bem mútuo, desculpa), traduzido em símbolos de status – dinheiro ou poder. Muitos pinguins ricos ou poderosos querem determinar como e onde os outros pinguins devem investir seus talentos, para construir uma carreira bem sucedida e colaborar com a bem estar comum (mais uma vez, desculpa, o ser humano não pensa nisso, muito MENOS nas nossas modernas corporações).

Isso tudo é muito triste. Mas acho que eu é que sou um misfit. Vou virar um eremita nas montanhas…

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* as novas regras do português são um saco. Os países lusófonos ainda escrevem e continuarão a escrever de jeitos distintos. Querer unificar a grafia de culturas tão diferentes é uma das coisas mais idiotas que essa gente “acadêmica” poderia ter inventado. A língua de um país se modifica naturalmente, com o passar dos anos. Em cada país, de um jeito diferente. E nunca porque a autoridade determinou. Eles não percebem isso? Eu vou continuar a escrever do meu jeito certo; sem o trema, claro.

Recycled Wisdom

Eu não tenho paciência com pessoas inferiores a mim. Não me preocupo com isso. Não que eu seja superior. Eu tento. Mas como é difícil lidar com pessoas que fazem questão de não saber. Tão ruim quanto isso é lidar com pessoas que acham que sabem. Muita gente deve ter essa impressão de mim. E eu sei muito pouco mesmo.

O que fazer com o conhecimento que dá a impressão do saber? Transformar a informação em conhecimento é confuso. Pior ainda se envolve ação. Me preocupo hoje em dia mais com a sabedoria, aquele processo que ocorre interiormente, quando a gente está quietinho conversando com a gente mesmo, depois de ler coisas interessantes, por exemplo. Como a gente vai compartilhar uma experiência tão pessoal e subjetiva? Poucos entendem. Sequer interessa. Oscar Wilde disse que toda arte é inútil. Acho que a gente deveria estender esse conceito à sabedoria.

É tudo um pouco complicado. As pessoas julgam umas às outras pelo que têm. E é um saco tentar participar de um grupo quando seus membros constituintes se julgam tão importantes por possuirem coisas ou ocupações pomposas. É uma das experiências sociais mais vazias do mundo. Raramente essas pessoas acrescentam conhecimento. Não que nesses momentos seja impossível rir. E ri-se muito, todos felizes demais. Mas sem legar nenhum fruto espiritual. A gente sai desses encontros com uma sensação de vazio, sem acrescentar nada, NA-DA. Antigamente conhecimento era transmitido por interações sociais. Isso é cada vez mais raro, ou só para poucos, o que é um dos conceitos mais imbecis do mundo moderno.

Obrigado aos meus bons amigos que me fazem querer saber mais.

Shakespeare, Macbeth. Act 5, Scene 5, 19-28

“Amanhã, e amanhã, e amanhã arrasta-se com passos insignificantes, dia após dia, até a última sílaba escrita pelo tempo. E todo nosso passado vem iluminando para os tolos o caminho para a morte poeirenta. Fora, fora lâmpada fugaz! A vida não passa de uma sombra vacilante – um mísero ator que se vangloria e se lamenta enquanto está no palco e depois não é mais escutado: é uma história contada por um idiota, cheia de som e de fúria, sem significado algum.”

Sullen mood, Dead bull

Como em turvas águas de enchente,
Me sinto a meio submergido
Entre destroços do presente
Divido, subdividido,
Onde rola, enorme, o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Árvore da paisagem calma,
Convosco – altas tão marginais!
Fica a alma, a atônita alma,
Atônita para jamais.
Que o corpo, esse vai com o boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Boi morto, boi desconhecido,
Boi espantosamente, boi
Morto, sem forma ou sentido
Ou significado. O que foi
Ninguém sabe. Agora é boi morto,

Boi morto, boi morto, boi morto.

Manuel Bandeira

6 Years before the Common Era

Não é interessante que a Era Comum mesmo para ateus e gnósticos tenha começado com o nascimento de um tal profeta de nome Jesus? E não é mais interessante ainda que ele tenha nascido 6 anos antes do que damos por certo? Veja que abalo ao nosso sistema de crenças: o ano zero aconteceu no ano 6 a.C. Segundo essa nova perspectiva, eu nasci em 1967, mas supostamente devo continuar tendo a mesma idade, eu acho – matemática nunca foi o meu forte.

Só não sei agora (e isso me aflinge deveras) se a previsão do calendário Maia para a destruição definitiva do planeta continua valendo para o ano 2012…

Atop the Volcano

Ontem estava assistindo uma entrevista com a Rose Marie Muraro, pra quem não sabe, uma grande bruxa, ícone do movimento feminista no Brasil e alhures. Pois apesar disso e por isso, ela escreveu a deliciosa e feliz introdução ao Malleus Maleficarum, O Martelo das Bruxas, documento usado pelos loucos da “Santa” Inquisição para sair matando a mulherada por 400 anos. Quando Deus era feminino e o poder de decisão das tribos ancestrais estava nas mãos das mulheres, as comunidades eram pacíficas. O homem roubou a caciquia e trouxe guerra, competição e desentendimento. A tal ponto que eu concordo com ela, quando ela disse mais ou menos isso: “estou triste, viver no mundo está cada vez pior; a gente mora em cima de um vulcão prestes a explodir”.

E não é?

Overture

Well, who said writing a blog on what goes about in one’s head was easy. My thoughts are filled with things I wish to share – for whatever exquisiteness or plain curiosity there is. That’s it.