return to nature

hoje eu encontrei mais uma vez a filha de uma vizinha muito legal aqui do prédio. ela cansou da cidade, com sua estrutura social sufocante, esfrangalhada, de gente querendo se matar no trânsito, no trabalho, no supermercado; cansou da poluição, da sujeira, da corrupção, das iniciativas frustradas, enfim, tudo o que a gente ama odiar em são paulo.

foi morar em uma comunidade alternativa, escondida nos cafundós do judas. lá eles voltaram a viver em harmonia com pessoas que aprenderam a se respeitar e a trabalhar pelo bem estar comum. lá não tem trabalho remunerado. cada um tem uma função na comunidade: eu planto, você colhe, eu dou comida pra vaca, você tira o leite, e assim por diante.

a filha da minha vizinha é uma redatora de mão cheia. já trabalhou em jornais famosos e já foi chefe de redação de uma revista aí. chegou um dia que ela deu um basta e abraçou um estilo de vida que me deixa bastante balançado. toda vez que eu me encontro com ela eu digo: dessa vez eu vou, dessa vez eu vou… sabe o que ela faz lá? ela é uma das responsáveis pelo contato com o mundo exterior: ela escreve um jornal e visita a cidade mais próxima para ajudar alguns comerciantes a melhorar o visual de uma placa, o logo de uma loja, a redigir um documento importante. em troca ela recebe víveres, remédio, roupa, livros.

em nenhuma hipótese existe troca de moeda. isso eu acho demais. lá na comunidade ninguém paga imposto, ninguém dá satisfação pras autoridades. isso pode ser meio perigoso mas eu fecho com thoreau e sua desobediência civil. água tem em todo lugar, eletricidade é gerada por painéis solares, e tem até internet. todo o conforto que a gente precisa. cultura às vezes pega: eu gosto de teatro, museu, ópera, cinema… mas, essa amiga deu muita sorte. na comunidade dela tem muita gente interessante, pensante, culta. eles criam apresentações, visitam tribos indígenas, promovem a absorção da cultura deles – muito diferente de intercâmbio cultural, que é outra coisa – dão palestras, educam suas próprias crianças…

hoje ela me deu algumas dicas e me falou de uns blogs legais, pra eu aprender mais. olha que sensacional – essa gente preocupada com o ambiente pensa em cada coisa genial…

(clique na imagem)

vai um vegetal fresco aí?

tudo plantado em garrafa pet

não só se deu um uso para as garaffas de plástico que iriam entupir tudo quanto é rio, como criaram a possibilidade de se comer verduras frescas hidropônicas – sem pesticida etc. – mesmo se você mora em um apartamento pequeno.

olha que legal esse blog que ela recomendou (clique na imagem):

comunidade verde dentro

gente realmente preocupada com a natureza

a gente normalmente vive tão acostumado com certas idiotices modernas que nem percebe o quão somos gado para os donos do mundo. somos bicho mesmo: domados, treinados, manipulados em todos os sentidos. qualquer que seja o mecanismo usado – lavagem cerebral, mensagem subliminar, influência direta – nós somos todos uns idiotas buscando as mesmas coisas inúteis: dinheiro, carro, apartamento na praia, fazer pose em restaurante fino, glamour… nada disso preenche nossa existência aqui neste planeta. e “buscar a felicidade” é um dos conceitos vazios mais odiosos de todos os tempos: ninguém atinge esse um tal de estado de felicidade. …e olha só como isso é explorado pra vender sabonete, cerveja, gasolina, conta no banco… odioso. odioso.

eu vou. não hoje, mas vou. já acordei e não quero mais ser títere, sombra de mim mesmo

me espera?

“A maioria de nossos males é obra nossa e os evitaríamos, quase todos, conservando uma forma simples de viver, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza.”

Rousseau

posto de outra forma: será que é tarde pra me identificar com os beatniks? serei eu um novo sal paradise?

foot-dragging: deliberate reluctance

Acordo bem cedo, me visto, dirijo sozinho pro trabalho, coloco um crachá com um nome, tiro o cérebro de dentro do crânio e o coloco numa gaveta.

Passo as próximas nove horas sorrindo pras pessoas, fazendo de conta que estou interessado na felicidade delas, tolerando a companhia dos meus colegas de trabalho, olhando pro relógio.

No fim do dia tiro o crachá com um nome, tiro o meu cérebro da gaveta e ponho de volta na cabeça, caminho pelo estacionamento, dirijo sozinho pra casa.

E isso é muito, muito, muito chato.

Parece que tenho que fazer isso por muito, muito tempo.

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Nancy Botwin – Weeds

mrb

If you work for a living, then why do you kill yourself working?

Über plushness

20 class a cigarettes. Vejo isso desde a adolescência. Sempre me perguntei do porquê de tanta incorreção: se é plural – cigaretteS -, eles não deveriam suprimir o artigo indefinido? Ou a idéia é 20 Class “A” cigarettes. Existe Class C cigarettes? Se houvesse, eles o venderiam como tal?

Essa discussão sobre concordância numérica me fez lembrar de um episódio da minha infância. No ônibus que me levava de casa pra escola et vice versa, havia um adesivo na parte superior do pára-brisa, uma propaganda (provavelmente o ônibus escolar era patrocinado pela empresa…): Molas Padroeira. Nossa, isso me encasquetou por muito tempo… Acho mesmo que eles deveriam ter contratado um publicitário pra ajudar a criar o nome da empresa…

Depois de anos de convivência com a língua inglesa, aprendendo muitas coisas pequenas aqui e ali, hoje sou capaz de sugerir uma outra leitura para o label dos cigarettes: vernacular. Eles vendem o produto usando a língua do povo. A interpretação definitiva da frase é a condensação de “of” em “a”. Ao invés de dizer “20 class of cigarettes”, eles preferem a frase coloquial “20 class a cigarettes”. Não é bem melhor assim? A culpa é deles se não há diferenciação entre maiúsculas e minúsculas. Se eu fosse o cara do marketing (MKT), eu diria “20 classy cigarettes”. Assim é melhor.

Não é engraçado, pra dizer o menos, as frases que esse povo é capaz de criar para seduzir o povo e vender uma determinada merda? Tome o caso, e.g., dos produtos incrivelmente maravilhosos que conquistaram o coração e o bolso de mulheres, que variam entre bobinhas e ingênuas, da Victoria’s Secret. Ai, que gostoso esse ideal de consumo, querer ser igual àquelas modelos… Ultimamente eu tenho notado que, de 10 mulheres da classe média que eu conheço, 9 compram produtos “importados oficialmente” da Victoria’s Secret. Essencialmente cremes. Moisturizers. Eu incidentalmente tive a curiosidade de ler o rótulo de um desses cremes, explicando o que ele é/faz. Olha que inspirador:

Slip into petal softness with our

Skin-Silkening Body Lotion.

Enriched with natural skin soothers,

conditioners, and sensual fragrance,

it leaves skin soft, silky and

scented with sparkling Pear Glacé.

Nossa, quase bebi o negócio…

Veja só se não é quase um ato sexual (vou fazer uma versão para o português):

Mergulhe dentro da suavidade das pétalas com nossa loção que faz sua pele se transformar em seda. Enriquecida com amaciantes naturais (eles sempre dizem isso. How to get ahead in advertising, anyone? Cê sabe, né, essencialmente é tudo uma mistura muito química…), condicionadores, e uma fragrância sexual, ops, sensual, ela deixa a pele macia, sedosa e perfumada com um glacê cintilante de pêras” (??).

Fez escola.

Ainda faz, quando um advertiser quer vender alguma merda… Seja cigarro, seja creme. Haja crasse!

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A minha postagem neste blog está começando a parecer Twitter – na minha opinião, uma dessas idiotices fenomenais que eu não entendo e que fazem adolescentes virar milhonários (sic).

Haja prolificiduidade (prolífico com assiduidade). Quanta contradição com os meus princípios: ora eu escrevo a cada dois meses, ora 20 posts por dia. Acho que estou a meio caminho de ostentar novos princípios…